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30 janeiro, 2011

Eterna Vítima

 Cofre presenteado a François d' Orleans,
príncipe de Joinville,
ao se casar com a princesa D. Francisca,
 irmã de D. Pedro II,
em maio de 1843, no Rio de Janeiro.
Museu Imperial, Petrópolis

Na silenciosa paz do cimo do Calvário
Ainda se vê na cruz o Cristo solitário.


Vinte séculos de dor, de pranto e de agonia,
Represam-se no olhar do Filho de Maria.


Abandonado e só na aridez da colina
Sofre infindo martírio a vítima divina;


Açoitado, traído e calmo, silencioso,
Da Terra ao Céu espraia o seu olhar piedoso.


Dois mil anos de dor, e os seus cruéis algozes
Passaram sem cessar como chacais ferozes.


Caravanas de reis nos tronos passageiros,
Exaltados na voz das trompas dos guerreiros;


Os lendários heróis no dorso dos corcéis,
Inscrevendo com fogo as máximas das leis.


Cavalheiros gentis, valentes brasonados,
Nobres de sangue azul nos seus mantos dourados.
Viram-no seminu, na cruz, ensanguentado,


E puseram-se a rir do louco supliciado!
O Cristo continuou, humilde e silencioso,


Espraiando na Terra o seu olhar piedoso.
Sábios do tempo antigo abrindo os livros santos


Olharam-no também, partindo como tantos.
Artistas e histriões, poetas e trovadores,


Castelãs juvenis, turbas de gozadores
Inda vieram; depois, aqueles que em seu nome


Espalharam a treva, o pranto, a guerra e a fome.
Desolação e horror, mataram-se os irmãos,


Lobos, tigres, chacais, na capa dos cristãos.   
Contemplaram Jesus no cume da colina,


Multiplicando a guerra, as lutas e a chacina.
O Mestre prosseguiu, sublime e silencioso,
Espraiando na Terra o seu olhar piedoso.


E na época atual a caravana estranha
Estaca no sopé da árida montanha;


Mas os soberbos reis e césares antigos,
Hoje mais nada são que míseros mendigos;


Os nobres doutro tempo, agora transformados
Nos párias do amargor, nos grandes desgraçados,
Agora vêem, sim, no topo do Calvário,


O sacrifício e a dor do eterno visionário,
Bradando com furor: – “Socorre-nos Jesus!


Que possamos vencer a dor em nossa cruz
Sorvendo o amaro fel nas dores da aflição,
Temos fome de paz e sede de perdão!”       


E o Mestre da bondade, o anjo da virtude,
Estende o seu perdão cheio de mansuetude.


E do cimo da cruz, calmo e silencioso,
Consola a multidão com o seu olhar piedoso.
Do Livro Parnaso de Além Túmulo, Pelo Espírito Guerra Junqueiro, médium Francisco Cândido Xavier.  http://www.museuimperial.gov.br/portal/
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

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