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18 novembro, 2013

Solidariedade


Estava fazendo minha caminhada habitual pela avenida Sumaré, quando um filhote de cão, talvez de uns 40 dias de vida, se tanto, abandonado ali na Praça Irmãos Karman, veio para a beira da calçada e logo, o seu focinho curioso fez com que ele descesse até o asfalto. Olhava a cena, enquanto o meu coração acelerava, prestes a ver, e ao mesmo tempo não querendo ver, um acontecimento impiedoso e quase certo. Os carros passavam à velocidade normal permitida ali, e o cãozinho iria virar carne moída dentro de pouco tempo. Arriscando-me por entre alguns carros que até diminuíram a marcha e outros tantos passando direto, com cuidado fui me aproximando do animal, receoso pelo trânsito que não parava. O cãozinho já estava quase no meio da avenida, totalmente indefeso e correndo um risco total, mesmo porque ele poderia ser morto até por não ser visto pelos motoristas.

Nesse momento, um Sr. Marronzinho que acompanhava toda a cena veio do outro lado e com mais autoridade, foi parando o trânsito até que peguei o filhote e, juntos fomos para a praça em lugar seguro. Perguntávamos um para o outro quem teria abandonado aquele cãozinho ali e como poderíamos cuidar do destino dele.

Nesse mesmo momento, veio do outro lado da rua uma senhora fina e elegante, trajando um conjunto de cores muito bem combinadas que, tomando o cãozinho no colo, disse poder levá-lo para a sua veterinária de confiança que o doaria a alguém, isto é, se não quiséssemos levá-lo. Perguntou a mim e ao Sr. Marronzinho se estávamos interessados em adotar o bichinho. Ele explicou que estava em serviço, senão poderia até levá-lo. Eu perdera há pouco tempo o meu cão pastor com 11 anos de idade, fiel amigo de tantas caminhadas e que me fez adquirir o saudável hábito de caminhar pelas ruas e avenidas do meu bairro. Ainda com o coração doendo, não queria adotar nenhum cão, pelo menos, não por enquanto.

Uma outra jovem senhora, simples e sorridente, carinhosa, logo pegou o cãozinho e segurando-o contra o peito, dizia que desejava muito levá-lo mas o problema é que não tinha espaço em sua casa. A senhora elegante, gentil e educada insistiu para que ela levasse o cãozinho. Praticamente havia tomado a decisão pela jovem que titubeava em adotar o animal. Logo se preocupou em como poderia arranjar uma maneira de transportá-lo até sua casa. Prontamente, um motorista do ponto de táxi próximo, disse que deveria ter um pedaço de pano no porta-malas do seu carro e afirmou que a banca de jornal do outro lado da rua, com certeza, poderia arrumar uma sacola plástica que permitiria carregar o filhote.

Assim fora resolvida a situação encaminhando a história para um final feliz. Um cuidado daqui, uma atenção dali, várias pessoas juntamente buscando solucionar aquele problema, para que o animalzinho fosse rapidamente adotado e, a partir daquele dia, tivesse um lar.

Logo depois voltei para a minha caminhada, tocado por aquele acontecimento e como, do nada, várias pessoas surgiram, prontas e bem intencionadas para por em uso a sua bondade, a sua compaixão e num gesto muito espontâneo e simples de solidariedade, providenciar uma casa e um destino para o filhote.

Hoje, quando me lembro da cena, não consigo deixar de pensar como ser solidário é um gesto simples. Não tem regras, não precisa de normas nem de campanhas, não precisamos de nos fazer muitas perguntas a respeito. Basta praticar o ato.


 Sim, como uma coisa muito natural. Tão natural como o samaritano que socorreu o homem caído à beira da estrada e ainda o levou a uma estalagem, onde pudesse receber tratamento e remédios, deixando até dinheiro para pagar as despesas daquele homem, de quem o samaritano nem sabia o nome ou a procedência, nem que pessoa seria, nem dos seus princípios morais, nem de suas convicções religiosas. Foi um ato tão completo e espontâneo como se o mundo, de fato, não tivesse divisão de países com suas fronteiras, em que as nações falassem uma mesma língua e sem religiões, os seres humanos não estariam enclausurados em suas convicções morais, defendendo este ou aquele princípio, e até mesmo defendendo deuses próprios, supostamente melhores do que outros, como os combates na antiguidade, onde as guerras que os seres humanos travavam eram também guerras entre deuses.

Como já disse, de vez em quando sou tomado pelas lembranças do fato, sinto-me então solidário e um pouco melhor do que normalmente sou. Mas sinto também que, quando um fato como este não está tão forte e presente na minha mente, não me vejo tão naturalmente bom, nem tão espontaneamente disposto a praticar o bem por mais simples que seja. 


Me lembrei do ensinamento de Aristóteles escrevendo em Ética a Nicômaco: “as virtudes são pois, de duas espécies, a intelectual e a moral, a primeira, por via de regra, gera-se e cresce graças ao ensino – por isso, requer experiência e tempo; enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do hábito. Não é pois por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nós. Diga-se, antes, que somos adaptados por natureza a recebê-las e nos tornamos perfeitos pelo hábito.”

Sempre me pego pensando, o quanto ainda devo praticar para adquirir o hábito...

Por Enéas Martins Canhadas - 03/06/2003
"JUNTE-SE A NÓS NESTE IDEAL: DIVULGUE O ESPIRITISMO."

13 novembro, 2013

A herança

Selo, anos 40 - Brasil

Na mesa do vasto aposento que penetráramos, em serviço de assistência espiritual, jazia grafada em belo cursivo a interessante carta que passamos a transcrever:

Meu Caro Belmiro:   - Parece incrível, mas somente hoje consigo tempo para responder-lhe à carta, recebida há precisamente oito meses. Perdoe-me a demora.

Realmente, o velho morreu, no ano passado; entretanto, apenas agora pude liquidar o inventário.

Confirmo a notícia da herança. O montante em dinheiro que me veio ao domínio é de cento e oitenta milhões, mas, automaticamente, sou hoje o dono de oito prédios, no valor aproximado de quinhentos milhões de cruzeiros velhos. Isso tudo, somado às jóias que me ficaram, ultrapassa a quantia de oitocentos mil cruzeiros novos, ou quase um bilhão na moeda antiga. E agora, meu caro, é tocar para a frente.

Espero multiplicar o patrimônio quatro vezes, em dois anos. Esteja certo disso.

Sinto muito não atender à sua recomendação. Você insiste comigo, há muito tempo, tanto quanto insistiu com o falecido, em assuntos de caridade. Não fôssemos companheiros de infância e não daria atenção ao caso; no entanto, estimo você suficientemente para deixa-lo sem resposta.

Aprendi com o velho que a vida vale pelo dinheiro que se tem. Você fala em benefícios aos outros, para que venhamos a ser beneficiados, e afirma que, se dermos em bondade e desprendimento aos que sofrem na vida, a vida nos retribuirá em saúde e alegria. Não sei onde é que você encontrou tanta teoria bonita para se enfeitar. Espiritismo, reencarnação...Você, Belmiro, é um poeta. Sempre admirei a sua imaginação. Desde a escola, você é assim – o notável sonhador que a gente aplaude, mas não pode seguir.

O que sei de mim é que nada compreendo sem o dinheiro. E dinheiro grande. Acompanhei meu avô, prestando-lhe assistência, durante a minha vida inteira, e não será agora que vou perder o fruto de meu esforço. Não desfalcarei o que tenho e, para defender o que tenho, não estou disposto a ceder um tostão. Você não é o primeiro amigo a falar-me de beneficência, de missão a cumprir, de solidariedade humana, de mensagens do Além. Acho isso tudo muito bonito, mas para mim não calha. Estive trinta anos – pense na extensão desse tempo – trinta anos protegendo o velho e ajudando-o a preservar o que, no fundo, agora é meu. Acredita que estou relaxado, a ponto de esquecer-me? Não me venha com a história de que meu avô teria falado depois da morte para aconselhar-me. Ele, meu mestre de poupança, não quereria fazer de mim um mão aberta. Essas conversas de espíritos, meu caro, têm muito de trapaça e bobagem... Os velhacos inventam as modas e os tolos vão seguindo. Se o vovô quiser dar ordens, que me apareça. Não tenho medo de fantasmas.

Quanto à saúde, estou forte. Ainda não completei cinquenta anos e somente agora obtive a possibilidade de viver como quero. Estou eufórico, feliz. Nunca pratiquei tanta ginástica e com tanto gosto.

Você me convida a pensar no outro mundo... E eu convido a você para mergulhar comigo nos prazeres deste mundo mesmo.

Venha para conversarmos e receba um abraço muito cordial do seu velho amigo, sempre devedor.

Neneco

Esta era a carta escrita e assinada pelo cavalheiro simpático que fôramos chamados a prestar auxílio espiritual e cujo corpo acabava de se cadaverizar por força de violento enfarte do miocárdio. E a nota mais significativa de todo o episódio é que ele, ao arrancar-se do veículo prostrado, em nossa direção, tomou-nos à conta de enfermeiros encarnados e, tropeçando semilúcido, informou-nos para logo de que, se estava doente, não queria seguir para o hospital sem o talão de cheques.

Do Livro "Marcas do Caminho" - Irmão X, médium Chico Xavier. 

"JUNTE-SE A NÓS NESTE IDEAL: DIVULGUE O ESPIRITISMO."

10 novembro, 2013

Não há lugar

Falcão-gerifalte (Falco rusticolus

Não há lugar em que nos vejamos sem algum benefício a prestar ou alguma coisa a fazer.
 

Seja qual seja a circunstância da estrada, aí encontramos a ocasião precisa realizar o melhor.
 

Por isso mesmo, o tempo é o prodigioso indicador, descerrando-nos situações inesperadas ao dom de compreender e de auxiliar.
 

Ainda mesmo nas trilhas mais obscuras da prova ou da aflição, somos defrontados por ensejos valiosos de renovação e progresso.
 

Na sustentação do progresso espiritual, precisamos tanto da caridade quanto o ar é necessário ao equilíbrio da vida orgânica.
 

A prática do Bem ser-nos-á garantida de paz e a paz em nós se nos fará fonte de permanente alegria.
Emmanuel, de "Caminho Iluminado", de Francisco Cândido Xavier
Sintetizado da mensagem "Não Há Lugar"
 
 "JUNTE-SE A NÓS NESTE IDEAL: DIVULGUE AO ESPIRITISMO."

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