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27 março, 2012

A alma infantil


Suriname, América do Sul
A alma infantil, nos diz Cecília Meirelles, como aliás, a alma humana, não se revela jamais completa e subitamente, como uma janela que se abre deixando ver todo um cenário.

É necessário ter cuidado para entendê-la, e sensibilidade no coração para admirá-la.

A autora nos narra que, certa vez, ouviu o comentário de uma professora que, admirada, contava sobre alguns presentes recebidos de alunos seus:

Os presentes mais engraçados que eu já recebi de alunos, foram, certa vez, na zona rural:
Um, levou-me uma pena de pavão incompleta: só com aquela parte colorida na ponta. Outro, uma pena de escrever, dourada, novinha. Outro, um pedaço de vidro vermelho...

Cecília afirma que seus olhos se alargaram de curiosidade, esperando a resposta da professora sobre sua compreensão a respeito de cada um dos presentes.

A amiga, então, seguiu dizendo: O caco de vidro foi o que mais me surpreendeu. Não sabia o que fazer com ele. Pus-me a revirá-lo nas mãos, dizendo à criança:
 "Mas que bonito, hein? Muito bonitinho, esse vidro..."

E procurava, assim, provar-lhe o agrado que me causava a oferta.

Ela, porém, ficou meio decepcionada, e, por fim, disse: "Mas esse vidro não é para se pegar, Não... Sabe para que é?
Olhe: a senhora põe ele assim, num olho, e fecha o outro, e vai ver só: fica tudo vermelho... Bonito, mesmo!"

A professora finalizou dizendo que esses presentes são, em geral, os mais sinceros. Têm uma significação muito maior que os presentes comprados.

Cecília Meirelles vai além, e busca ainda fazer uma análise de caráter psicológico:
O que me interessou, no caso relatado, foram os indícios da alma infantil que se encontraram nos três presentes. E os três parecem ter trazido a mesma revelação íntima:

Uma pena de pavão incompleta reparem bem, só com aquele pedacinho "colorido" na ponta, uma pena de escrever "dourada" novinha, e um caco de vidro "vermelho" são, para a criança, três representações de beleza.

Três representações de beleza concentradas no prestígio da cor e desdobradas até o infinito, pelo milagre da sua imaginação.

Essas três ofertas, portanto, da mais humilde aparência (para um adulto desprevenido), não devem ser julgadas como esforço entristecido da criança querendo dar um presente, sem ter recursos para comprar.

A significação de dinheiro, mesmo nas crianças de hoje, ainda é das mais vagas e confusas.

E sua relação de valor para com os objetos que a atraem é quase sempre absolutamente inesperada.
Eu tenho certeza - diz a autora ainda de que uma criança que dá a alguém uma pena dourada, uma pena de pavão e um caco de vidro vermelho, os dá com certo triunfo.

Dá com certa convicção de que se está despojando de uma riqueza dos seus domínios, de que está sendo voluntariamente grande, poderosa, superior.

                                                  * * *

A infância não é somente útil, necessária, indispensável, mas é, ainda, a conseqüência natural das leis que Deus estabeleceu, e que regem o Universo.

Com ela, aprendem os Espíritos que reencarnam mais dóceis e influenciáveis quando no estado infantil.

Aprendem também as almas que as cercam, colhendo desse período de inocência e magia o exemplo da pureza e da simplicidade de vida, que devemos todos encontrar em nosso íntimo.
 
 
Autor: Redação do Momento Espírita com base no cap. Os indícios da alma infantil, do livro Crônicas de educação, v. 1 de Cecília Meirelles, ed. Nova Fronteira.
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

26 março, 2012

O Sonho de Martin


Martin Luther King Jr. profere o seu famoso discurso "Eu tenho um sonho" em março de 1963 frente ao Memorial Lincoln em Washington, durante a chamada "marcha pelo emprego e pela liberdade"
Martin era uma criança observadora que amava a liberdade.

Ele podia suportar broncas, mas as reações de desprezo causavam-lhe grande impacto emocional.
Infelizmente, elas foram muito constantes nos principais capítulos de sua vida.

A sua pele era negra e ele não entendia como isso poderia justificar a discriminação que sofria pelas pessoas que tinham a pele branca.
Para ele, brancos e negros, tinham os mesmos sentimentos, a mesma capacidade de pensar, a mesma necessidade de ter amigos e de amar.

Quando repousava sua cabeça no travesseiro, o jovem Martin viajava no mundo de suas idéias e se questionava: "por que os negros não podem frequentar as mesmas escolas, os mesmos clubes, os mesmos bancos das igrejas, o mesmo transporte público que os brancos?"


Por que não posso ter amigos brancos? Não somos todos seres humanos?" 
Ele conheceu de perto a dor indecifrável da humilhação. Sofria pela discriminação de que era vítima todo o seu povo.

Resolveu fazer teologia a fim de navegar pelo mundo espiritual e encontrar respostas para o injusto mundo social onde estava inserido.


Penetrou no sonho de Deus que nunca fez discriminação de pessoas, nunca distinguiu nobres de miseráveis, reis de súditos, lúcidos de loucos.


Foi contagiado pelo sonho dos direitos humanos e do respeito pela vida.
Nessa trajetória conheceu a história do mestre dos mestres.  
A humanidade de Jesus Cristo influenciou a humanidade do jovem Martin.

Viu nele o modelo mais excelente de alguém que combatia toda a forma de discriminação.
Ao ler sobre Jesus, Martin ficava impressionado com a sua coragem de correr riscos para proteger as pessoas segregadas de seu tempo.

Os sonhos do mestre Jesus colocaram combustível nos sonhos de Martin.
Mais tarde, resolveu fazer uma incursão pela filosofia e aprendeu a não calar a sua voz. Tinha uma carreira promissora.

Poderia ter seguido seu próprio caminho e seus próprios interesses. No entanto, preferiu dar seu tempo e sua inteligência para alterar a história dos outros.


Queria contribuir para o bem da humanidade. Tinha pouco mais de vinte e cinco anos, mas era arrojado, culto e determinado.


Sonhava em mostrar aos desprezados que eles não deveriam se envergonhar de si mesmos, que nada é mais digno do que um ser humano.


Posteriormente participou ativamente do movimento em prol dos direitos civis.
O clima era tenso e ele sabia que poderia perder a vida a qualquer momento. Mas não conseguia silenciar seus sonhos.

Tornou-se um grande líder.
 
Sua casa sofreu atentados à bomba, mas isso não o silenciou. Sofreu um atentado na noite de autógrafos de seu livro "a caminho da liberdade".

Sobreviveu, recuperou-se e continuou seu trabalho.
Foi preso diversas vezes, mas nada parecia abalar aquele sonhador.

Sua voz contagiava corações e, por isso, recebeu o prêmio Nobel da Paz.


E, em 04 de setembro de 1968, em Memphis, foi morto por um atirador.
Martin Luther King morreu pelos seus sonhos, os quais não morreram com ele. Vivem, ainda, e viverão para sempre, no coração daqueles que se deixam tocar pela sua história e mensagem de vida.
                                                      * * *
Redação do Momento Espírita, com base no livro "Nunca Desista de Seus Sonhos", de Augusto Cury.
 
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

24 março, 2012

Criatividade - Monte a figura de ZAQUEU

Montagem - figura

“Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

Entrevistando ZAQUEU



- Zaqueu, você poderia nos recordar seu encontro com Jesus, em Jericó, onde você residia?

ZAQUEU: A bondade do Mestre Galileu, honrando-me com uma visita e uma refeição em minha casa, eu, um renegado pela sociedade porque um "publicano", tocou-me para sempre o coração, conforme sabeis... Ele compreendeu as minhas necessidades morais de estímulo para o Bem, o meu aflitivo desejo de ser bom. Penetrou, com sua solicitude inesquecível, os mais remotos escaninhos do meu ser moral; contornou, com seu amor de Arcanjo, todas as aspirações do meu Espírito, filho de Deus, que sofria por algo sublime que lhe aclarasse as ações... E conquistou-me, assim, por toda a consumação dos séculos.

- Narra o Evangelho que no dia da crucifixão de Jesus os apóstolos os abandonaram. Você estava lá naquelas horas de sofrimento?

ZAQUEU: Muito sofri e chorei quando esse Mestre foi levantado no suplício da cruz. Não, eu não o abandonei jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E o pouco que ainda viveu depois disso teve-me em suas pegadas para ouvi-Lo e admirá-Lo. Eu não me ocultei das autoridades receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e tampouco me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... E assisti aos estertores da agonia sublime naquela tarde do 14 de Nisan.

- Como foram aqueles momentos sublimes da reaparição do Cristo, após o terceiro dia de sua morte?

ZAQUEU: Soube, é certo, da ressurreição que a todos revigorou de esperanças... Mas não logrei tornar a ver e ouvir o Mestre, não fui bastante merecedor dessa ventura imensa... Ele só se apresentou, depois da ressurreição, aos discípulos – homens e mulheres – e aos apóstolos.

- O que você fez depois?

ZAQUEU: Inconsolável por sua ausência e sentindo em mim um vazio aterrador, meu recurso para não desesperar ante a saudade e o pesar pelo desaparecimento desse Amigo incomparável foi insinuar-me entre seus discípulos, a fim de ouvir falarem dele...

Fui a Betânia, quantas vezes?... e tentei tornar-me assíduo da granja de Lázaro, de tão gratas recordações... Mas tudo ali estava tão mudado e tão triste, depois do 14 de Nisan... Visitei Pedro, esperando consolar a minha grande dor ouvindo-o dissertar sobre Aquele que se fora do alto do Calvário, com a eloqüência com que sempre soube arrebatar as multidões.

Perlustrei, choroso e desarvorado, as praias de Cafarnaum e de Genesaré, sem saber o que tentar em meu próprio socorro, mas esperançado de que os irmãos Boanerges, filhos de Zebedeu, me compreendessem e adotassem para discípulo do seu bando, como eu via que acontecia a tantos outros... Mas nenhum deles sequer prestava atenção em minha insignificante pessoa... Não me olhavam, não me viam, e eu temia importuná-los dirigindo-lhes a palavra... Eram tantos os pretendentes ao aprendizado do Amor, ao redor deles! Eles tinham tantas preocupações, preparando-se, chocados, para o heróico apostolado!... E como eu era "publicano", um malvisto cobrador de impostos da alfândega romana, convenci-me, erroneamente, de que era por isso que não me recebiam.

Recolhi-me então à minha mágoa imensa, sem todavia deixar de seguir, discretamente, os apóstolos, orando para que não tardasse o socorro a vir fortalecer a fé e a esperança que eu depositava naquele reino de Deus que havia de vir. Recolhi-me, mas não desanimei.

- Zaqueu, você cumpriu a promessa que fez a Jesus de que dividiria seus bens com os pobres, quando ele esteve em sua casa?

ZAQUEU: Eu deixei Jericó, desliguei-me das funções aduaneiras, dei parte dos meus bens aos pobres, com a outra parte, provi recursos para minha família, distribuí minhas terras entre os camponeses mais necessitados, reservando o estritamente necessário à minha manutenção pelos primeiros tempos. Fiz-me errante e vagabundo para acompanhar os discípulos e ouvi-los contar às multidões as conversações intimas que o Senhor entretivera com eles, antes do Calvário e depois da gloriosa ressurreição.

- O dinheiro não acabou?

ZAQUEU: Como eu conhecesse bem as letras e as matemáticas, falando mesmo o grego, tão usado em Jerusalém, e também o latim, igualmente usado graças à influência romana, à parte os nossos dialetos da Síria, da Galiléia e da Judéia, se me escasseavam recursos apresentava-me às escolas mantidas pelas Sinagogas. Empregava-me ali como adjunto dos escribas, para as lições aos jovens, ou então nas casas particulares ricas, como professor, e assim ganhava meu sustento. Mas se não houvesse lições a transmitir era certo que nunca faltariam madeiras a serrar, aqui ou ali; águas a carregar, a fim de saciar a sede das famílias; paredes a reparar nas casas dos romanos, os quais, se eram agressivos no trato pessoal com o povo hebreu, sabiam, no entanto, remunerar com justiça aqueles que os serviam, desde que não se tratasse de escravos.

- Mas, enfim, você conseguiu ou não aproximar-se de algum dos apóstolos de Jesus?

ZAQUEU: Um dia – foi em Jerusalém – correra a nova sensacional de que certo jovem fariseu, responsável pelo apedrejamento e morte do nosso querido Estêvão, a quem o Espírito do Senhor inspirava com tantas glórias, acabara por se converter à Causa, porque o Senhor lhe aparecera em ressurreição triunfante, exatamente quando ele entrava na cidade de Damasco, para onde se dirigia tencionando prender os nossos "santos" - os primeiros cristãos assim de denominavam uns aos outros - domiciliados naquela localidade. Aparecera-lhe o Senhor e convidara-o diretamente para o seu ministério, como o fizera aos outros doze, antes de sua paixão e morte. E que, agora, já inteiramente submisso aos desejos do Mestre Nazareno, com tremendas responsabilidades pesando-lhe nos ombros, conferidas pelo mesmo Mestre, pela primeira vez ia falar à assembléia dos discípulos, em Jerusalém.

- Você foi ouvi-lo?

ZAQUEU: Fui ouvi-lo. Esse fariseu era Saulo (Saul), o de Tarso, "que é também chamado Paulo". Contou ele, à assembléia silenciosa e atenta, o seu colóquio com o Nazareno, à entrada de Damasco, e logo conquistou o coração de muitos que se achavam presentes. Foi de pé (alguns se ajoelharam) que ouvimos os pormenores da aparição do Senhor a Paulo. Muitos choraram, eu inclusive, e também Paulo.

- Você procurou Paulo para conversar?

ZAQUEU: Nunca mais deixei Paulo, até hoje! Procurei-o então, em Jerusalém. Fui recebido com afeto e bondade. Fiz-lhe a minha confissão, o que não tivera coragem de fazer aos demais discípulos. Narrei-lhe os meus sofrimentos íntimos por Jesus. Quisera servi-lo, a ele, Jesus. Sinceramente o queria! Mas não sabia como iniciar nem o que fazer. Paulo ouviu-me com solicitude digna daquele mesmo Mestre que o admoestara em Damasco. E aconselhou-me, e guiou-me!

- Você poderia nos dizer o que Paulo lhe disse?

ZAQUEU: Ele deu-me incumbências: - " Não te limites à adoração inativa, que poderá cristalizar-se em fanatismo. A Doutrina de Jesus é afanosa por excelência... E ela precisa de servos trabalhadores, enérgicos, ágeis para mil e uma peripécias, de boa-vontade para a propagação da Verdade que nos trouxe...Tu, que possuis noções da prática da beneficência, testemunha o teu amor por Ele, servindo também aos teus irmãos que sofrem ou erram, pois tal é o segredo da boa prática da nova Doutrina. Nenhum de nós será tão pobre que não possa favorecer o próximo com algo que possua para distribuir: o pão, o lume, o agasalho, o bom conselho, a advertência solidária, a assistência moral no infortúnio, o ensinamento do Bem, a lição ao ignorante, a visita ao enfermo, o consolo ao encarcerado, a esperança ao triste, o trabalho ao necessitado de ganhar o próprio sustento honrosamente, a proteção ao órfão, o seu próprio coração amigo e irmão em Cristo, a prece rogando aos Céus bênçãos que aclarem os caminhos dos peregrinos da vida, o perdão àqueles que nos ferem e nos querem mal..."

- Caro amigo, depois que enfim você se tornou um dos discípulos ativos de Jesus, você pode viver aquelas experiências, que nos mostram os evangelhos, de curar enfermos, afastar espíritos...?

ZAQUEU: Se não curei leprosos, estanquei a aflição de muitas lágrimas com exposições em torno do Mestre. Se não levantei paralíticos, pelo menos ergui a coragem da fé em muitos corações desanimados ante a incúria pelas coisas santas. Se não expulsei demônios, é certo que alijei o ateísmo, recuperando almas para o dever com Deus. E se não ressuscitei mortos, renovei esperanças na alma de muitas matronas desgostosas com a indiferença dos próprios filhos na prática do Bem, revigorei a decisão de muitos pecadores que temiam procurar o bom caminho, porque envergonhados de se apresentarem a Deus, pela oração, a fim de se renovarem para jornadas reabilitadoras.

- E como tudo isso repercutiu em sua própria evolução?

ZAQUEU: Minha alma se alegrava em Cristo, dilatavam-se os meus propósitos de progresso. Eu sentia que, de dia para dia, quando orava, mais incidiam sobre mim forças e novas bênçãos para mais se desdobrarem em operações objetivas, que tendiam a me fazer comungar com a vontade daquele Unigênito dos Céus, que um dia penetrou os umbrais pecaminosos de minha casa para me levar a salvação. E encontrei, então, dentro de mim próprio, aquele Reino de Deus que ele anunciara... Encontrei-o na paz do dever cumprido, que me embalava o coração...

                                       * * *
León Tolstoi - Psicografia de Yvonne A. Pereira
Do livro "Ressurreição e Vida" - Editora FEB
“Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

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