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28 julho, 2011

Síndrome de vítima: a incapacidade de aceitar o mundo como ele é

Todo o comportamento humano decorre da concepção que nós temos da realidade e nessa realidade existem dois pólos bastante distintos: aquilo que nós somos e aquilo que nos cerca. 

Nossa postura na vida depende do modo como estabelecemos essa relação: a relação entre nós e os outros, entre nós e os membros da nossa família, entre nós e outros membros da sociedade, entre nós e as coisas, entre nós e o trabalho, entre nós e a realidade externa. 

A nossa maneira de sentir e de viver depende de como cada um de nós interioriza a relação entre essas duas partes da realidade. E uma das formas que aprendemos de nos relacionarmos com os outros é a postura que designamos por vítima. 

O que é a vítima? A vítima é a pessoa que se sente inferior à realidade, é a pessoa que se sente esmagada pelo mundo externo, é a pessoa que se sente desgraçada face aos acontecimentos, é aquela que se acostuma a ver a realidade apenas em seus aspectos negativos. Ela sempre sabe o que não deve, o que não pode, o que não dá certo. Ela consegue ver apenas a sombra da realidade, paralelo a uma incrível capacidade para diagnosticar os problemas existentes. 

Há nela uma incapacidade estrutural de procurar o caminho das soluções e, neste sentido, ela transfere os seus problemas para os outros; transfere para as circunstâncias, para o mundo exterior, a responsabilidade do que está lhe acontecendo. 

Esta é a postura da justificativa. Justificar-se é o sinal de que não queremos mudar. Para não assumirmos o erro, justificamo-nos, ou seja, transformamos o que está errado em injusto e, de justificativa em justificativa, paralisamo-nos, impedimo-nos de crescer. 

A vítima é incompetente na sua relação com o mundo externo. Enquanto colocarmos a responsabilidade total dos nossos problemas em outras pessoas e circunstâncias, tiraremos de nós mesmos a possibilidade de crescimento. Em vez disso, vamos procurar mudar as outras pessoas. 

Este tipo de postura provém do sentimento de solidão. É quando não percebemos que somos responsáveis pela nossa própria vida, por seus altos e baixos, seu bem e seu mal, suas alegrias e tristezas; é quando a nossa felicidade se torna dependente da maneira como os outros agem. 

E como as pessoas não agem segundo nosso padrão, sentimo-nos infelizes e sofredores. Realmente, a melhor maneira de sermos infelizes é acreditarmos que é à outra pessoa que compete nos dar felicidade e, assim, mascaramos a nossa própria vida frente aos nossos problemas. 

A postura de vítima é a máscara que usamos para não assumirmos a realidade difícil, quando ela se apresenta. 

É a falta de vontade de crescer, de mudar‚ escondida sob a capa da aparição externa. Essa é uma das maiores ilusões da nossa vida: desejarmos transferir para a realidade que não nos pertence, sobre a qual não possuímos nenhum controle, as deficiências da parte que nos cabe. Toda relação humana é bilateral: nós e a sociedade, nós e a família, nós e o que nos cerca. 

O maior mal que fazemos a nós próprios é usarmos as limitações de outras pessoas do nosso relacionamento para não aceitarmos a nossa própria parte negativa. 

Assim, usamos o sistema como bode expiatório para a nossa acomodação no sofrimento. A vítima é a pessoa que transformou sua vida numa grande reclamação. Seu modo de agir e de estar no mundo é sempre uma forma queixosa, opção que é mais cômoda do que fazer algo para resolver os problemas. A vítima usa o próprio sofrimento para controlar o sentimento alheio; ela se coloca como dominada, como fraca, para dominar o sentimento das outras pessoas. 

O que mais caracteriza a vítima é a sua falta de vontade de crescer. Sofrendo de uma doença chamada perfeccionismo, que é a não aceitação dos erros humanos, a intolerância com a imperfeição humana, a vítima desiste do próprio crescimento. Ela se tortura com a idéia perfeccionista, com a imagem de como deveria ser, e tortura também os outros relativamente àquilo que as outras pessoas deveriam ser. 

Há na vítima uma tentativa de enquadrar o mundo no modelo ideal que ela própria criou, e sempre que temos um modelo ideal na cabeça é para evitarmos entrar em contato com a realidade. A vítima não se relaciona com as pessoas aceitando-as como são, mas da maneira que ela gostaria que fossem. 

É comum querermos que os outros sejam aquilo que não estamos conseguindo ser, desejar que o filho, a mulher e o amigo sejam o que nós não somos. 

Colocar-se como vítima é uma forma de se negar na relação humana.

Por esta postura, não estamos presentes, não valemos nada, somos meros objetos da situação. Querendo ser o todo, colocamo-nos na situação de sermos nada. Todavia, as dificuldades e limitações do mundo externo são apenas um desafio ao nosso desenvolvimento, se assumirmos o nosso espaço e estivermos presentes. 

Assim, quanto pior for um doente, tanto mais competente deve ser o médico; quanto pior for um aluno, mais competente deve ser o professor. 

Assim também, quanto pior for o sistema ou a sociedade que nos cerca, mais competentes devemos ser com pessoas que fazem parte desta sociedade; quanto pior for nosso filho, mais competentes devemos ser como pai ou mãe; quanto pior for a nossa mulher, mais competentes devemos ser como marido; quanto pior for nosso marido, mais competentes devemos ser como esposa, e assim por diante. 

Desta forma, colocamo-nos em posição de buscar o crescimento e tomamos a deficiência alheia como incentivo para nossas mudanças existenciais. 

Só podemos crescer naquilo que nós somos, naquilo que nos pertence. 

A nossa fantasia está em querermos mudar o mundo inteiro para sermos felizes. Todos nós temos parte da responsabilidade naquilo que está ocorrendo. 

Não raras vezes, atribuímos à sociedade atual, ao mundo, a causa de nossas atribulações e problemas. Talvez seja esta a mais comum das posturas da vítima: generalizar para não resolver. 

Os problemas da nossa vida só podem ser resolvidos em concreto, em particular. Dizer, por exemplo, que somos pressionados pela sociedade a levar uma vida que não nos satisfaz, é colocar o problema de maneira insolúvel. 

Todavia, perguntar a nós mesmos quais são as pessoas que concretamente estão nos pressionando para fazer o que nos desagrada, pode ajudar a trazer uma solução. Só podemos lidar com a sociedade em termos concretos, palpáveis. 

Conforme nos relacionamos com cada pessoa, em cada lugar, em cada momento, estamos nos relacionando com a sociedade, porque cada pessoa específica, num determinado lugar e momento, é a sociedade para nós naquela hora. 

Generalizamos para não solucionarmos, e como tudo aquilo que nos acontece está vinculado à realidade, todas as vezes que quisermos encontrar desculpas para nós basta olhar a imperfeição externa. 

Colocar-se como vítima é economizar coragem para assumir a limitação humana, é não querer entender que a morte antecede a vida, que a semente morre antes de nascer, que a noite antecede o dia. 

A vítima transforma as dificuldades em conflito, a sua vida num beco sem saída. Ser vítima é querer fugir da realidade, do erro, da imperfeição, dos limites humanos. Todas as evidências da nossa vida demonstram que o erro existe, existe em nós, nos outros e no mundo. Neurótica é a pessoa que não quer ver o óbvio. 

A vítima é uma pessoa orgulhosa que veste a capa da humildade. O orgulho dela vem de acreditar que ela é perfeita e que os outros é que não prestam. Crê que se o mundo não fosse do jeito que é‚ se sua esposa não fosse do jeito que é‚ se seus filhos não fossem do jeito que são, se o seu marido fosse diferente, ela estaria bem, porque ela, a vítima, é boa, os outros é que têm deficiências, apenas os outros têm que mudar. 

A esse jogo chama-se o "Jogo da Infelicidade". A vítima é uma pessoa que sofre e gosta de fazer os outros sofrerem com o sofrimento dela, é a pessoa que usa suas dificuldades físicas, afetivas, financeiras, conjugais, profissionais, não para crescer, mas para permanecer nelas e, a partir disso, fazer chantagem emocional com as outras pessoas. 

A vítima é a pessoa que ainda não se perdoou por não ser perfeita e transformou o sofrimento num modo de ser, num modo de se relacionar com o mundo. 

É como se olhasse para a luz e dissesse:

"Que pena que tenha a sombra...", 
é como se olhasse para a vida e dissesse: "Que pena que haja a morte...", 
é como se olhasse para o sim e dissesse: "Que pena que haja o não...". 

E se nega a admitir que a luz e a sombra são faces de uma mesma moeda, que a vida é feita de vales e de montanhas. 

Não são as circunstâncias que nos oprimem, mas, sim, a maneira como nos posicionamos diante delas, porque nas mesmas circunstâncias em que uns procuram o caminho do crescimento, outros procuram o caminho da loucura, da alienação. As circunstâncias são as mesmas, o que muda é a disposição para o alvorecer e para o desabrochar, ou para murchar e fenecer.

Por Marco Aurélio Rocha
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

26 julho, 2011

O prazer de ser bom


O desejo da felicidade é inerente ao homem.

A busca do bem-estar constitui um dos fatores do progresso.
Foi labutando para eliminar sensações desagradáveis que a Humanidade desenvolveu seu intelecto e habilidades.

Caso o ser humano não procurasse fugir da dor e do desconforto, ainda estaria nas cavernas.
Contudo, por mais que se procure incessantemente descobrir remédios e soluções para as dores, é impossível ignorar a fragilidade da vida material.

Tudo o que envolve a matéria encontra-se em contínuo processo de metamorfose.

Todos os homens adoecem, envelhecem e morrem.


As pessoas esforçam-se para conquistar bons empregos, mas nada lhes assegura que os manterão para sempre.
A maior parte de nossos amores, sejam familiares ou amigos, não ficará conosco até o final da vida.

A estabilidade financeira constitui objeto de preocupação de quase todos nós, mas a fortuna é transitória e incerta.
Ao longo do tempo, famílias ricas caem na miséria.
Ao mesmo tempo, muitos pobres enriquecem.

Esse contínuo alterar das condições materiais não evidencia crueldade da vida.
A Divindade não se compraz em brincar com os homens, para os desnortear.

O persistente modificar e despedaçar que envolve a vida na Terra destina-se a chamar a atenção dos homens para o que realmente importa.

Ao final de tudo, o que restará?
A beleza física fenece com o tempo.
As elevadas posições sociais gradualmente perdem sua importância ou são ocupadas por outros.
A riqueza material não é levada para o Além-túmulo.

A única bagagem que o Espírito leva para a vida imortal são as suas conquistas morais.

Quem consegue, por entre as ilusões do Mundo, desenvolver bondade, compaixão, pureza e retidão de caráter, permanece para sempre assim.

Na Terra, no plano espiritual ou nas encarnações futuras, as virtudes acompanham o Espírito.

E a verdade é que ser bom dá muito prazer.

Trata-se do inverso do que ocorre com a maldade e os vícios de toda ordem, que somente ensejam dor e sofrimento.

Jamais se viu uma alma genuinamente bondosa mudar seu rumo ou arrepender-se de sua bondade.

Contudo, inúmeras criaturas levianas ou maldosas, com frequência, alteram o seu comportamento.
É um evidente sinal de que as virtudes causam prazer, ao passo que as imperfeições apenas infelicitam.

Afinal, ninguém desiste do que é realmente bom.

As pessoas que conseguem enfrentar situações complicadas com serenidade causam admiração.

Sabe-se como é difícil se manter tranquilo em meio às crises do Mundo.
A harmonia e a paz são conquistas preciosas, que não surgem de um momento para o outro.
Quem hoje se mostra tranqüilo, certamente gastou muito tempo disciplinando o próprio caráter.
Entretanto, viver em harmonia é extremamente prazeroso.

O ódio, o rancor e a ira desgastam profundamente o ser humano.

Quem consegue livrar-se desses vícios torna-se muito mais feliz.
Então, o equilíbrio felicita a criatura, o mesmo ocorrendo com todas as outras virtudes.

O homem que vence a posse e ama pelo prazer de ver feliz o ser amado desenvolve imenso bem-estar.

Ele não mais se angustia tentando controlar a vida de seu amor.
Convém refletirmos sobre essa realidade, fazendo uma análise criteriosa de nosso caráter.

Como desejamos a felicidade, é importante desenvolver em nós a única causa de permanente alegria: o amor ao bem e às virtudes em geral.

Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita.
Em 02.05.2008.

24 julho, 2011

Bruxa do silêncio


Era uma vez um povo barulhento que vivia a caminhar.
Na verdade não caminhava, fugia. Desde cedo aprenderam a temer a Bruxa do Silêncio.
Era difícil para aquela gente tão tagarela, imaginar que poderiam ficar sem falar, a partir do instante em que fossem pegos pela terrível bruxa.
"Que horror!", exclamavam os mais velhos.
"Que monstruosidade!", gritavam os mais jovens.
"Que grande absurdo!", diziam os que não eram jovens nem velhos.
E permaneciam correndo, alucinados, receando o poder da Bruxa do Silêncio.
E quanto mais corriam, mais tagarelavam e gritavam. Nem podiam escutar uns aos outros. Mas isso pouco importava.
Já estavam habituados a somente falar.


Era curioso como desde pequeninos aprenderam a temer a Bruxa do Silêncio, e era um medo que se passava de pai pra filho há séculos.
Diziam que ela era horrível, monstruosa e absurdamente má.
"Já imaginou se ela nos pega?", diziam os mais velhos.
"Já pensou se ela nos acha?", perguntavam apavorados os mais novos.
"Já lhes passou pela cabeça se ela nos torna seus cativos?", diziam os que não eram jovens nem velhos.
E prosseguiam correndo, horas mais rapidamente, horas mais lentamente; mas sempre barulhentos.


Uma mulher, na corrida, tropeçou e caiu. Continuou a tagarelar, só que dessa vez pedindo ajuda. Ficou no chão muito tempo a falar e resmungar esperando uma mão companheira que a levantasse.
Mas seus parceiros de jornada só tinham ouvidos para suas próprias palavras. E continuaram sua caminhada barulhenta e individualista.
Estavam caminhando juntos, mas eram, na verdade, absolutamente solitários.
A mulher resmungou, gritou e berrou, e só depois de muito tempo, quando percebeu que seus lamentos eram em vão e ninguém a ajudaria, levantou-se. Correu na direção do grupo gritando e berrando como era normal.


Um velho, sentiu-se cansado e reclamou, pedindo ajuda.
Queixou-se para os da esquerda, queixou-se para os da direita... Só recebeu outras palavras de reclamação em retorno, e que nada tinham a ver com a sua própria queixa.
Compreendeu que todos os seus companheiros só tinham ouvidos para eles mesmos.


O velho entendeu que esse também era o seu padrão, juntou as forças que não tinha e prosseguiu reclamando mais alto ainda. Berrava para si mesmo blasfêmias e impropérios, olhando para o umbigo.
Era engraçado mas só agora ele entendia o porquê de toda aquela gente, inclusive ele, ter orelhas tão pequenas, quase inexistentes.
Andaram e andaram, e continuaram andando, horas mais rapidamente, horas mais devagar, mas sempre fazendo barulho. Suas bocas nunca paravam...
Depois de vários dias, meses e anos, de longa e barulhenta marcha, fugindo da lendária Bruxa do Silêncio, a horda de faladores começou a descobrir uma paisagem diferente.


Estavam agora subindo uma colina forrada de bela manta de gramínea verde, que em alguns pontos era salpicada de pequenas flores de cor púrpura.
E no alto da bonita elevação eles puderam ver uma imensa torre.
Era uma torre de bronze, muito alta, tão alta que parecia tocar as nuvens.
Enquanto eles subiam a colina, iam também se admirando com a beleza das cores que a torre assumia ao ser banhada pelos raios de sol, quando o metal de que era construída ia refletindo a luz dourada do astro-rei.
Em suas paredes, milhares de pequenos orifícios em forma de orelha chamavam a atenção.
Cobriam boa parte das paredes externas da torre, de cima a baixo.


Naquele instante, quando quedaram em frente à estranha construção, algo inusitado começou a acontecer.
Eles passaram a sentir uma coisa esquisita e o barulho que faziam começou a diminuir.
Suas vozes desencontradas e em volume tão alto mudaram um pouco. Tornaram-se mais mansas.
Seus olhos, que miravam o umbigo e os pés a maior parte do tempo, se elevaram para contemplar a torre.
E então, eles começaram a entrar na construção.
Dessa vez disseram juntos, tanto os mais velhos como os mais novos e também aqueles que não eram jovens nem velhos: "Essa torre pode nos esconder e nos proteger da Bruxa do Silêncio".
E foram entrando um a um. Foram então se dispondo sentados na imensa escadaria em forma de caracol que havia no interior da torre.
E era curioso como através dos orifícios em forma de orelha o vento soprava de fora para dentro, cantando sons totalmente novos. E os sons ensinavam coisas, e eles iam experimentando assim uma forte aprendizagem...
Os sons que entravam na torre pelas orelhas esculpidas traziam a própria música da vida.
As vozes, os lamentos, os pedidos, os desejos, os sonhos, e todas as coisas que nunca haviam lhes chamado atenção, agora fluíam ... E eles, estranhamente, se deram conta de que podiam calar...
Calar para escutar...


E tudo o que ouviam começava a fazer sentido de uma forma absolutamente nova, profundamente rica, lhes trazendo uma maior compreensão dos outros e de si mesmos...
Pela primeira vez estavam todos calados, somente escutando.
E quanto mais escutavam, mais se banhavam por uma luz de indizível beleza.
E um milagre ia acontecendo: suas orelhas, antes quase invisíveis de tão pequenas, começaram a crescer.
Enquanto isso lá fora o sol se despedia, banhando o céu com tons avermelhados e alaranjados.
E o mais surpreendente aconteceu.
Montada num cavalo alado, que parecia ser feito do próprio pó das estrelas, desceu das nuvens uma bela mulher com os cabelos ao vento.
Era a dona da torre. Era a própria Bruxa do Silêncio.


Eles não sabiam, e na verdade nunca souberam, mas enquanto pensavam estar fugindo da Bruxa, o que fizeram foi caminhar para ela.
A mulher apenas sorria, altiva, enquanto ia descendo do seu cavalo. E pode presenciar emocionada o momento em que toda aquela gente foi saindo lentamente da sua torre. Estavam completamente renovados.
Agora a sua marcha era diferente. Sabiam calar-se nos momentos certos e falar nos momentos certos.
Alguns se abraçavam enquanto marchavam, alguns conversavam, dialogavam. Olhavam-se nos olhos, e algumas vezes, quando necessário, olhavam os umbigos. O certo é que tinham mais opções.
Finalmente estavam com uma profunda compreensão do que significava andar junto.
A caminhada não era mais barulhenta e sim harmônica e integrada. A lua e as estrelas já apareciam quando eles começaram a se distanciar da torre cantando em coro uma bela melodia.
E quando se afastaram e começaram a sumir no horizonte, a Bruxa do Silêncio, lentamente, foi entrando na torre, que era a sua casa.
Ela era, na verdade, a Fada da Felicidade.
Por Kau Mascarenhas
          "Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."    

23 julho, 2011

Convocação


...Nós fomos chamados por Jesus para tornar o mundo melhor.
Não foi por acaso que na hora última a voz do Divino Pastor chegou até nós.
Não nos encontramos no mundo assinalados apenas pelos delitos e os erros pretéritos, somos os Servos do Senhor em processo de aperfeiçoamento para melhor servi-lo.
Nem a jactância dos presunçosos, nem a subestima dos que preferem a acomodação.
Servir, meus filhos, com a instrumentalidade de que disponhamos é o nosso dever.


Observamos que a seara cresce, mas os trabalhadores não se multiplicam geometricamente como seria de desejar, porque estamos aferrados aos hábitos doentios, que no momento da evolução antropológica, serviram-nos de base para a transformação do instinto em emoção edificante .


A maneira mais segura de preservar os valores do Evangelho de Jesus em nós é através da vinculação mental com o Nosso Condutor.


Saiamos da acomodação justificada de maneira incorreta para a ação.
Abandonemos as reações perturbadoras e aprendamos as ações edificantes.


Sempre dizemos que necessitamos de Jesus, sem cuja Misericórdia estaríamos como náufragos perdidos na grande travessia da evolução, mas tenhamos em mente que Jesus necessita de nós, porque enquanto falamos a Ele pela oração Ele nos responde pela inspiração.
Ele age pelos nossos sentimentos através das nossas mãos. Sejam as mãos que ajudam, abençoadas em grau mais expressivo do que os lábios que murmuram preces contemplativas.
A nossa postura no mundo neste momento é de misericórdia.


Que nos importem os comentários deprimentes a nosso respeito, se valorizamos o mundo, respeitando os seus cânones e paradigmas? Não nos preocupemos com que o mundo pensa e fala de nós através de outros corações.


No belo ensinamento de Jesus na casa de Lázaro, enquanto Maria o ouve e Marta se afadiga temos uma lição extraordinária – não é necessário ficar numa contemplação de natureza egoística, mas é necessário aprender para poder servir.
A atitude de Marta é ansiosa, era a preocupação com o exterior. A atitude de Maria era iluminativa, a que parte dos tesouros sublimes da coragem e do amor, através da sabedoria, para poder melhor servir.
O serviço é o nosso campo de iluminação.


Nós outros, os companheiros da Vida Espiritual, acompanhamos as lágrimas que são vertidas pelos sentimentos de todos aqueles que nos suplicam ajuda e, interferimos com a nossa pequenez, junto ao Mestre Incomparável para que Ele leve ao Pai as nossas necessidades, mas bendigamos a dor sem qualquer laivo masoquista; agradeçamos a dor que nos desperta para a Verdade, e que nos dilui as ilusões; que faz naufragar as aventuras de consequências graves antes que aconteçam.


Estamos portanto convocados para a construção da Sociedade Nova, na qual o bem pairará soberano, como já ocorre, acima de todas e quaisquer vicissitudes.
Filhos da Alma, tende bom ânimo. Não recalcitreis contra o aguilhão nem vos permitais a deserção lamentável ou a parada perturbadora na escalada difícil da sublimação.
Jesus espera-nos, avancemos! Suplicando a Ele, o Amigo Incomparável de todos nós, envolvemos os afetuosos corações em dúlcidas vibrações de paz.
Na condição de servidor humílimo e paternal de sempre,
Bezerra
Muita paz
(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, ao final da conferência pública, realizada no Grupo Espírita André Luiz, no Rio de Janeiro, na noite de 14 de julho de 2011).


21 julho, 2011

Talvez hoje


Talvez hoje:
Surgirá quem procure ditar-lhe o que você precisa fazer, entretanto, embora agradecendo as elogiáveis intenções de quem lhe oferece os pontos de vista, antes de tudo, a sua própria consciência quanto ao dever que lhe cabe;


é possível que algum coração amigo impondo-lhe quadros de pessimismo e perturbação, relativamente às dificuldades do mundo; compadecendo-se, porém, da criatura que se entrega ao derrotismo e ao desânimo, você observará a renovação para o bem que a Sabedoria Divina promove em toda parte.


possivelmente, notícias menos agradáveis venham a suscitar-lhe inquietações e traçar-lhe problemas; no entanto, você conservará a própria paz e não desligará das suas orações e pensamentos de otimismo e esperança.


Talvez hoje tudo pareça contra você, mas você prosseguirá compreendendo e agindo, em apoio do bem, guardando a certeza de que Deus está conosco e de que amanhã será outro dia.
Do Livro Respostas da vida, Pelo Espírito André Luiz 

19 julho, 2011

Supere a perturbação

É bem verdade que o seu dia-a-dia tem o valor de uma trama de desafios, aptos a lhe conferir a diplomação em diversas virtudes.
Essas virtudes o auxiliarão a transpor as barreiras morais que ainda o afastam da alegria verdadeira e da paz-conquista, que o erguerão do chão comum do mundo aos cimos da consciência iluminada por seus esforços na existência terrena.
No seu período diário, não são poucas as ocasiões de se exasperar, de lhe desnortear ou de entristecer seu íntimo, aguardando pela sua coragem e lucidez para não passar recibo a tais perturbações.
Você se angustia com os preços mais altos da feira onde se abastece;
Você se entristece com a indiferença ou frieza emocional dos que lhe devem afetividade e amor;
Você se enraivece com a mentira deslavada que toma ares de legislação digna, nos arraiais em que se movimentam seus passos;
Você se irrita com os baixos salários, enquanto se apercebe das múltiplas necessidades materiais da sua vida, que têm que ser adiadas;
Você se curva perante o familiar que não o ouve, que não lhe considera os arrazoados honestos, e tudo isso, com certeza, pesa sobre seu estado psico-emocional.
Não podemos afirmar que nas caminhadas do mundo você não possa desenvolver esses sentimentos, ou que não lhe devesse passar pela mente as amarguras que passa.
Entretanto, se você sabe que no mundo apenas conheceremos aflições, conforme o assegurou Jesus, O Cristo, é de se esperar que pelas Suas trilhas na busca do sonhado progresso todas essas agruras ocorram, todas essas frustrações apareçam.
Você não está errado quando se insurge contra o desvario, quando se nega a aceitar a impostura, quando recrimina o vício, ou quando se indispõe perante o cinismo, a desfaçatez que costuma mascarar tantos rostos a sua volta.

O que as vozes do bem decantam aos nossos ouvidos, o que Jesus nos ensinou com seu testemunho terrestre é que você pode dizer isso ou aquilo, você pode fazer isso ou aquilo; você pode pensar isso ou aquilo, sem que se tenha de apoiar no destempero verbal;

Sem que precise se envenenar com a agressiva violência; sem que necessite gritar, explodir, perdendo o próprio controle em face das situações diversas e desafiadoras que se lhe defrontem.
Adote o hábito, que os mais antigos recomendavam, de “contar até 10”, antes de fazer ou acontecer.
Apóie-se na harmonia íntima que lhe trará luzes e refrigério ao discernimento, impedindo que você se atire ao abismo de tormentos da alma, que, indubitavelmente, o farão infeliz e arrependido.

Pense e repense a respeito do aprendizado que as situações difíceis lhe propiciam:
As bênçãos da paciência, da moderação, da tranquilidade, da frugalidade, da tolerância, da fraternidade, da compreensão, da indulgência, do autocontrole, tornando-o amadurecido para merecer compromissos mais altos na oficina de Deus,
que é a Terra inteira.

A questão principal em tudo é saber como tomar cada providência, sem passar recibo às sombras, não o esqueça.
Caso você esteja no lar, no local de trabalho, no lazer, nas atividades desportivas ou nas lidas da sua fé, não se esqueça que está diante de importantes desafios que visam a diplomá-lo em virtude, ante os olhos amorosos do criador.

Mais uma vez, queremos lhe advertir para que não se deixe perturbar com as ocorrências diárias.
Para que não passe recibo ao mal ou às insinuações do mal, quando cada dia no mundo, com todos os seus episódios, não passa de mais um dia de aulas, com estranhos professores chamados a conferir-lhe o devido grau, na abençoada escola terrestre.

Pensamento
O homem jamais deve esquecer que se acha num mundo inferior, ao qual somente as suas imperfeições o conservam preso.
A cada vicissitude, cumpre-lhe lembrar-se de que, se pertencesse a um mundo mais adiantado, isso não se daria e que só de si depende não voltar a este, trabalhando por se melhorar.
Equipe de Redação do Momento Espírita, adaptação do cap. 27 do livro Para uso diário, do Espírito Joanes, psicografia de J. Raul Teixeira, Ed. Fráter.
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

Palestras - Raul Teixeira

15 julho, 2011

Falar ou Não Falar

FOTO - Edward Kramer
Eis uma questão muito delicada. Como agir diante de circunstâncias, fatos, posturas que denotem conduta inadequada? 

Quando devemos e como fazermos para chamar a atenção de alguém por comportamentos que comprometem a segurança e paz de outras criaturas, por exemplo? Ou, de alguém que se rebela diante dos critérios de funcionamento de uma reunião ou instituição?

Há que se considerar que cada caso é um caso por si só. Há agravantes, atenuantes, características próprias e peculiaridades a cada situação que nunca permitem estabelecer-se uma receita pronta que resolva todas as ocorrências. Por isso recorramos à Doutrina Espírita.
O capítulo X de O Evangelho Segundo o Espiritismo traz importante contribuição ao estudo do tema. Kardec o intitulou Bem Aventurados Aqueles que são Misericordiosos, inserindo instruções dos espíritos sobre o perdão, a indulgência, reconciliação com os adversários e suas próprias análises, inclusive também sobre o ensino de Jesus do Não Julgueis. 

Para análise e reflexão geral, porém, transcrevemos abaixo as instruções do Espírito São Luiz pertinentes à delicada questão e constantes do final do referido capítulo (os grifos são nossos):

“(...) É permitido repreender os outros, notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de outrem? 

19. Ninguém sendo perfeito, seguir-se-á que ninguém tem o direito de repreender o seu próximo? Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se, porquanto cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis fazê-lo com moderação, para um fim útil, e não, como as mais das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último caso, a repreensão é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja cumprido com todo o cuidado possível. Ao demais, a censura que alguém faça a outrem deve ao mesmo tempo dirigi-la a si próprio, procurando saber se não a terá merecido. — S. Luís. (Paris, 1860.)

20. Será repreensível notarem-se as imperfeições dos outros, quando daí nenhum proveito possa resultar para eles, uma vez que não sejam divulgadas? Tudo depende da intenção. Decerto, a ninguém é defeso ver o mal, quando ele existe. Fora mesmo inconveniente ver em toda a parte só o bem. Semelhante ilusão prejudicaria o progresso. O erro está no fazer-se que a observação redunde em detrimento do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na opinião geral. Igualmente repreensível seria fazê-lo alguém apenas para dar expansão a um sentimento de malevolência e à satisfação de apanhar os outros em falta. Dá-se inteiramente o contrário quando, estendendo sobre o mal um véu, para que o público não o veja, aquele que note os defeitos do próximo o faça em seu proveito pessoal, isto é, para se exercitar em evitar o que reprova nos outros. Essa observação, em suma, não é proveitosa ao moralista? Como pintaria ele os defeitos humanos, se não estudasse os modelos? — S. Luís. (Paris, 1860.)

21. Haverá casos em que convenha se desvende o mal de outrem? É muito delicada esta questão e, para resolvê-la, necessário se torna apelar para a caridade bem compreendida.

Se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá nunca em divulgá-la. Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes. — São Luís. (Paris, 1860.)”. 

Eis o grande desafio: perceber realmente essa observação final da instrução superior. Daí a própria instrução acima transcrita destacar: É muito delicada esta questão e, para resolvê-la, necessário se torna apelar para a caridade bem compreendida. A caridade bem compreendida engloba, conforme a entendia Jesus o perdão das ofensas, a benevolência para com todos e a indulgência para com as faltas alheias, conforme ensino da questão 886 de O Livro dos Espíritos, onde Kardec acrescenta como comentário pessoal: “(...) amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos nos fosse feito a nós mesmos. (...)”. 

Por outro lado, o tema também é abordado na questão 903 de O Livro dos Espíritos: 

“903. Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios? Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais o ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não vos possam aplicar estas palavras de Jesus: Vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave no seu próprio.”

Portanto, haverá casos e casos, mas sempre a caridade deverá pautar nossas ações, ainda que para advertir, afastar ou orientar alguém. Muitas vezes nos depararemos com pessoas e situações que trarão prejuízos a muitos e o dever da caridade impõe nossa ação de Falar ao invés de Não falar. Porém, sem interferir no livre arbítrio das criaturas. E, ao mesmo tempo, usando da indulgência, como ensinam os Bons Espíritos. Eis o desafio a nos ensinar...

Nota: A presente matéria é resultado de pesquisa e indicação de Américo Sucena e elaboração textual de Orson Peter Carrara.
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

14 julho, 2011

Nos momentos de incerteza

Caro irmão, nos momentos de incerteza faça reflexão, silêncio, meditação; seu mundo interno é amor e vida; há nele luminosidade e bondade, não esqueça que tudo é possível àquele que quer.Calma. Veja Deus no Universo, por toda parte, dentro de você mesmo; fique firme no leme, nos bons propósitos; não desista, não esqueça que a visão humana enxerga as coisas não como elas são, mas como seu interior permite.

Coragem, o processo reencarnatório representa aprendizado. Tenha paciência, alcance o significado do momento. Procure serenar; não estranhe as tempestades que desabam sobre você, elas chegam, limpam o ar, purificam e passam; o reerguimento consciente é o melhor remédio para a dor moral.

Evite lágrimas, desespero, lamentações, recriminações, que podem empanar, escurecer mais os problemas ao invés de resolvê-los.

Procure não esquecer que o tempo não se esvai em vão. Seja comedido, a virtude não se firma somente por palavras, mas pelo exercício do pensamento no bem; é importante perceber que a força da compreensão do cotidiano ilumina a caminhada.

Em qualquer situação desesperadora, a solução certa se alcança pela prece e vigiliatura, que reconquistam, o horizonte da esperança, fortalecendo o praticante pela sintonia com o Creador.

Há momentos, no trânsito terreno, graves, tristes, pesados; o homem que frequenta a academia da espiritualidade aprende a se libertar, a não cair vítima da infâmia, calúnia, injúria, da maledicência, da dor ou sofrimento; aceita humildemente o que não pode mudar; com dignidade, vive o Evangelho do amor, o desprendimento, a caridade, a fraternidade, aprende a ser.

Meu caro amigo, seja forte. Não esqueça as lições aprendidas; aceite a diversidade; não existem duas pedras iguais, por que haveria de existir almas com os mesmos sentimentos, pensamentos, maneira de ser ou igualdade?
A sabedoria da felicidade é fruto da experiência que conscientiza o homem da transitoriedade da Terra, dando-lhe conhecimento, luz, justiça, promovendo a evolução do espírito.

Paz, vida eterna, amor.
 
Mensagem do espírito Leocádio José Correia, extraída do livro "Na luta do cotidiano, A força do amor", psicografada pelo médium Maury Rodrigues da Cruz.
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

12 julho, 2011

O falcão


Conta a lenda que, certa manhã, o guerreiro mongol Gengis Khan e sua tropa saíram para caçar. Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos, Gengis Khan carregava apenas seu falcão favorito no braço. O animal era melhor e mais preciso que qualquer flecha, porque podia subir ao céu e ver tudo o que o ser humano não conseguia ver.

Entretanto, apesar de todo o entusiasmo, o grupo não conseguiu encontrar nada. Decepcionado, Gengis Khan voltou para o acampamento. Mas, para não descarregar sua frustração em seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.
Gengis Khan permanecera na floresta mais tempo que o esperado e estava extremamente cansado e com muita sede. Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos. Ele não conseguia encontrar água para beber, até que avistou um fio de água descendo por um rochedo bem à sua frente. Na mesma hora, retirou o falcão do braço e pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava consigo. Era apenas um fio de água que corria pelo rochedo, por isso ele demorou um longo tempo para ele conseguir encher o cálice. Mas quando estava prestes a levá-lo à boca, o falcão levantou voo e arrancou o copo de sua mãos, atirando-o longe.

                                                                                                                       Mapa domínio de Gengis Khan século XIII
    
Gengis Khan ficou furioso, mas era seu animal favorito, talvez também estivesse com sede. Apanhou o copo, limpou a poeira e tornou a enchê-lo. Após outro tanto de tempo, com a sede apertando cada vez mais e com o cálice já pela metade, o falcão o atacou novamente, derramando o líquido.

Gengis Khan adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circunstância, já que alguém podia 
estar assistindo à cena de longe e mais tarde contaria aos seus guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave.

Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo. Manteve um olho na fonte e outro no falcão assim que viu ter água suficiente e quando estava pronto para beber, o falcão de novo levantou voo e veio em sua direção Gengis Khan, em um golpe certeiro, atravessou a espada no peito do falcão, matando-o.

Ele retomou o trabalho de encher o cálice. Mas o fio de água havia secado. Decidido a beber aquela água de qualquer maneira, Gengis Khan escalou o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia realmente uma poça de água e, no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da regia-o Se tivesse bebido a água, teria morrido imediatamente.
Gengis Khan voltou ao acampamento trazendo o falcão morto nos braços e dizendo para si mesmo:
- Hoje aprendi uma triste lição! Muitas vezes nos precipitamos em jugar e agir, ferindo assim a quem mais nos ama e chega a dar a sua vida por nós...
Ele mandou fazer uma reprodução em ouro da ave e gravou em uma das asas:
"Mesmo quando um amigo faz algo que você não gosta, ele continua sendo seu amigo."
E, na outra:
"Qualquer ação motivada pela fúria é uma ação condenada ao fracasso, pois nem sempre o que parece ser, realmente é!"
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."
Do livro: Valores Humanos – a revolução necessáriaIzabel Ribeiro

Música

Hoje é o tempo de fazer o melhor.Emmanuel
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

O mal da omissão

Homeless, New York
Na entrada de uma estação do metrô, em Nova Iorque, deparei-me com um homem maltrapilho, a dormir profundamente o sono pesado dos alcoólatras. Ao lado, uma lata para que as pessoas depositassem doações em seu benefício, e um cartaz com o seguinte apelo: Help a poor irish man keep his drinking habit. Ajude este pobre irlandês a manter o seu vício. A cena, digna de uma comédia dramática, era reveladora. Demonstrava que mesmo no país mais rico do mundo não se conseguiu solucionar o problema do alcoolismo e da exclusão social. Perto de 12% da população americana, aproximadamente 36 milhões de pessoas, vivem em estado de pobreza, alcoólatras em boa parte. Isso nos permite constatar uma tendência lamentável: a capacidade que tem o ser humano de conviver com as carências alheias, sem se condoer, sem se incomodar, sem se propor a fazer algo.

Se milhões de americanos de classe média e abastada que moram em Nova Iorque, uma das cidades mais ricas e de maior rendimento per capita do mundo, participassem de organizações não governamentais, com o propósito de ajudar os carentes de todos os matizes, esses problemas seriam solucionados facilmente. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV, item 10, há uma mensagem de Paulo que, reportando-se à máxima de Kardec, “Fora da caridade não há salvação”, enfatiza:

[...] Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos, assim,meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as consequências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.

Insuficiente, como afirma o apóstolo, não fazer o mal. Imperioso fazer o bem. Elementar que boa parte dos males praticados pelos homens nasça do fato de não se haver exercitado o bem com eles. Não é novidade que muitos criminosos em potencial ou consumados são formados na rude escola da exclusão social, da pobreza, da necessidade mais premente. Está demonstrado que há, quase sempre, uma história de maus-tratos, carência afetiva e frustração em nossos irmãos comprometidos com a criminalidade.

Se o Bem não chega, o mal bota as mangas de fora. 

Se tarda a luz, as trevas dominam. Detalhe importante, amigo leitor: nas reuniões mediúnicas manifestam-se Espíritos perturbados e infelizes, não raro inconscientes de sua situação. Em boa parte, não foram maus, apenas omissos. Por desinteresse, jamais cogitaram de que não praticar o Bem faz mal para a alma, situando-nos à margem da Harmonia Universal, regida pelo Bem Supremo: Deus! A justiça humana pune a omissão de socorro, quando fomos os responsáveis por um acidente de trânsito com vítimas.

A justiça divina pune a omissão de socorro diante de males que não causamos, mas que temos condições de minorar, envolvendo as carências humanas. Não podemos, portanto, alegar ignorância, nem dizer que não sabíamos, quando a morte nos transferir para o Além e nos pedirem contas de nossas ações. Sabíamos sim! Eu sei, você sabe, leitor amigo, todos sabemos desde que Jesus o revelou, que é preciso fazer pelo próximo o bem que desejamos para nós. 



Desde que Kardec fez da caridade a bandeira do Espiritismo, sabemos que não basta evitar o mal. É nosso dever indeclinável e inadiável nos movimentarmos nas lides da solidariedade, onde estivermos, a começar pelo empenho em ajudar um alcoólatra, não com a esmola que alimenta seu vício,mas com a participação na obra social que o ajude a superá-lo.
Por Richard Simonetti
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

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