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12 julho, 2011

A mídia e a banalização da violência


Inegável a importância da mídia no cotidiano da família brasileira, como de resto em todos os países do globo. Os meios de comunicação são, estrutural e marcantemente, formadores de opinião, influindo, desde tenra idade na constituição e desenvolvimento da personalidade humana. 

Em dias de competitividade no mercado e de acirrada luta pela sobrevivência, a ausência prolongada do lar, as dificuldades de “encaixe” de horários para a convivência familiar e o conflito entre pessoas ou gerações, elege os aparelhos televisivos e a internet como os companheiros possíveis para entretenimento, lazer e, até, prazer. 

Sem entrar no mérito da questão dos relacionamentos humanos, o desprestígio dos casamentos e a dicotomia de interesses, vale salientar que as mídias não são, idealmente, boas nem más, mas neutras, porque possibilitam o acesso a diversificados conteúdos e são movidas por apelos comerciais – notadamente anúncios e consumidores. Há, assim, conforme o ângulo de visão, efeitos positivos ou maléficos de programas, canais, sites e redes. O “filtro” deve ser o próprio indivíduo, ou, quando não possa fazê-lo (principalmente pela questão de maturidade crono-psicológica, seus “responsáveis” legais.

Em paralelo, quem de nós encontra-se suficientemente maduro para realizar “boas” escolhas? Quantas vezes nos sentimos atraídos por programas ou conteúdos de gosto banal ou duvidoso? Há algum “limitador” que não seja nossa própria consciência? É possível estabelecer freios ou “censuras”? Não somos, nós, os senhores de nós mesmos, os responsáveis por nossas opções e, num amplo espectro, assumimos as conseqüências de nossas escolhas, racional e conscientemente?

Há, no plano político-social, uma iniciativa governamental em andamento, resultante de consulta popular (via internet), para a (re) definição da classificação dos programas televisivos, por exemplo. Pretende-se, com isto, aperfeiçoar o (já existente) mecanismo de autorização de exibição de programas de diferentes matizes, em horários e faixas etárias “aconselháveis”. As operadoras de TV paga (cabo ou antenas) já dispõem, também, de mecanismos “limitadores” ou bloqueadores, visando, sobretudo, evitar que crianças acessem o conteúdo de programas ou canais vistos por pessoas adultas, geralmente seus próprios pais. São, evidentemente, alternativas para conter a banalização do erotismo, do sexo, da violência, da agressividade, etc.

Se é, sociologicamente, demonstrado que a TV (por si só) não é capaz (sozinha) de alterar o comportamento das pessoas, não é absurdo dizer que o “poder” de influenciação que ela possui, junto a outros elementos sociais, provoca a alteração dos padrões de comportamento, da expressão das idéias e do relacionamento interpessoal. Família, igreja, grupo de trabalho, comunidade escolar, vizinhança, etc., também produzem tal influência nos indivíduos.

Todavia, todos os dias, a televisão banaliza a violência, principalmente quando, a pretexto de produzir notícia, as pautas e a configuração de matérias e programas recorre ao sensacionalismo para “cativar” seu público, para “ganhar” audiência, e, com ela, novos patrocinadores, que promoverão, a seu turno, a roda-viva de “aperfeiçoar” a mídia, que terá mais anunciantes, e assim, sucessivamente.

Um dos graves erros é a escolha das periferias, favelas e bairros pobres como “foco” e ambiente das pautas jornalísticas. Associando marginalidade à violência, a generalização leva à idéia de que todos os moradores destes locais são, potencial e naturalmente, violentos, o que não é verdade. Poderíamos, aqui, abrir espaço para a discussão sociológica da influência indivíduo-meio-indivíduo, mas não o faremos, por razões óbvias: é possível encontrarmos gente “boa” em lugares inóspitos ou degradantes, como vice-versa.

A questão é que, ao assistirmos, cotidianamente, as reportagens sobre as mazelas sociais, sem recorrer ao controle remoto e com o intuito de “estar por dentro” do que acontece em nossa cidade, muitas vezes ficamos reféns dos efeitos que tais fatos televisivos produzem em nós. Sem nos apercebemos, acabamos sendo influenciados, demonstrando, por vezes, irritabilidade, medo e agressividade, mesmo inconsciente.

Isto, sem falar na diferença (e competitividade) que existe entre as emissoras. As maiores, por exemplo, possuem um grupo maior de repórteres, câmeras e editores, o que proporciona uma “melhor” edição do que irá ao ar. Principalmente em épocas como a presente, de proximidade de eleições, determinadas emissoras são pródigas em apresentar reportagens que podem beneficiar ou prejudicar determinado(s) político(s)-candidato(s). É a chamada “mensagem alternativa”, ou, em muitos casos, a “mensagem subliminar”. Omissão, adaptação ou “maquiagem” são, assim, instrumentos conhecidos no jornalismo contemporâneo, não significando, contudo, que “todas” as mídias ou empresas, e “todos” os profissionais ajam desta maneira. Temos, indiscutivelmente, de norte a sul do país, exemplos éticos suficientes.

Por fim, há também uma diferença capital no “formato” das matérias. A maioria, nos casos de exibição de crimes e violência, apresenta apenas o “fato” jornalístico, com seus desdobramentos. Outros, na esteira do chamado “jornalismo investigativo”, preocupa-se em chamar a atenção para a falta de políticas públicas, o descaso governamental e as chamadas “crises” da Sociedade: fragmentação e estratificação social, preconceito, exclusões, desemprego, marginalidade...

No primeiro caso, nenhum contributo efetivo para a erradicação do problema da violência ou para a busca da paz. E, se não somos ingênuos ao ponto de ansiar para que a mídia apresente, todos os dias, matérias enaltecendo as boas ações de pessoas e instituições em nossa Sociedade (já que o bem não “vende” publicidade, nem cativa o interesse da maioria), pelo menos saibamos diferenciar entre estas e aquelas mídias, escolhendo aquelas que invistam na sedimentação de uma cultura de paz, apresentando soluções viáveis, chamando a atenção para os problemas (reais) de nossa conviviabilidade e, acima de tudo, cooptando o cidadão do bem para que ele “se mexa” e faça algo concreto na direção na pacificação de nossas relações.
A propósito, que mídia você prefere?
Por 
Marcelo Henrique
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

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