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21 junho, 2011

Deficiência aceitação ou não aceitação


Outrora as pessoas deficientes eram consideradas loucas e o preconceito era grande. 

Mas, se faz necessário enfrentar a questão analisando de forma angular, sem disfarces .

Nós, espiritas, sabemos que a deficiência, sob qualquer de suas formas, é doença , e assim é necessária ao homem, enquanto Espírito em desenvolvimento É preciso compreender que a doença faz parte da vida do homem e, como tudo, tem ela sua função, seu papel . 

A vida material corresponde a um processo, isto é,a uma sequência contínua de fatos ou operações que representam certa unidade ou que se reproduzem com certa regularidade levando o homem a uma atividade constante, através da qual se desenvolve, se transforma.

Viver é sempre enfrentar obstáculos diferentes, aflitivos às vezes, prazerosos outros, mas, sempre estimulando o próprio desenvolvimento do ser. 

A doença, tão natural em um corpo que nasce, cresce, reproduz e se decompõe nos seus elementos constitutivos, faz parte desse viver. É, pois, uma realidade da vida em mundos materiais em desenvolvimento, servindo ao progresso espiritual do homem. 

Aceitá-la como parte do viver na Terra é um ato inteligente, o que não significa conformação passiva. É um desafio a ser vencido, procurando meios de afastá-la ou amenizar seus efeitos. 

Considerá-la como um fator natural desse viver, estudá-la, para bem lhe conhecer as causas e, por consequência, os meios de evitá-la, de combatê-la, de vencê-la, libertando o homem dessa necessidade atual, têm sido preocupações e atividades de excelente desenvolvimento, realizadas por muitos que se dedicam, nas diferentes áreas, proporcionando à Humanidade, um viver, cada vez mais, em melhores condições físicas e materiais, tendo até a existência prolongada. 

A Humanidade um dia se libertará das doenças, mas, por muito tempo ainda, a Terra terá de conviver com elas, enquanto o homem, com saúde, não aprender a viver no respeito mútuo dos deveres e direitos de cada um. 

O espiritismo, demonstrando a doença, em geral, como resultado dos desequilíbrios no perispírito, causados pelo Espírito, toda vez que infringe a lei do Bem, que é a que impera sobre tudo e todos, dá também um bom motivo, para evitar a revolta, o desespero, a inconformação, que muitas vezes, concorrem para piorar a situação e a própria doença. 

Demonstrando, também, ser a doença, quase sempre, um processo de cura, de libertação de efeitos de erros em um passado remoto ou próximo, oferece os elementos racionais e lógicos para um melhor entendimento da necessidade dela para o homem imperfeito. 

"A dor, sob suas múltiplas formas é o remédio supremo para as imperfeições, para as enfermidades da alma". escreveu Léon Denis no seu livro Depois da Morte, Quinta Parte, L - Resignação na Adversidade. 

Supremo, significa derradeiro, último, extremo, que está acima de tudo.

Isso significa que não é o único remédio, mas é o usado quando todos os outros falharam. 

Como o Espírito imortal faz sua caminhada evolutiva através de todas as experiências do viver, a doença tem, também, na Terra, a função de estimular no sofredor o desenvolvimento das virtudes que, na saúde, em geral, ele não as deseja ou não sente a necessidade de desenvolvê-las em si. 

A doença pode, se bem entendida e aceita, transformar o homem em um ser melhor, muito melhor... 

Deus, Inteligência Suprema, criou leis para auxiliar seus filhos na caminhada evolutiva. Uma delas é a de causa e efeito, que faz com que toda ação provoque uma reação semelhante à causa que a provocou. 

Assim, os habitantes da Terra, Espíritos rebeldes às leis divinas, embora continuem vivendo em um mundo maravilhoso, tendo todas as oportunidades de viver de acordo com as leis divinas, podendo até saldar suas dívidas anteriores através do amor ao próximo, ainda permanecem sujeitos às doenças e sofrimentos, porque continuam presos ao orgulho e no egoísmo, aos valores materiais. 

Por isso, as doenças, as dores e os sofrimentos fazem parte do cotidiano do homem. 

Se assim é, sejamos inteligentes e aproveitemos para estudar, em nós, suas causas, procurando eliminá-las, aproveitando, quando doentes, o desenvolvimento da paciência, da tolerância, da resignação, do respeito e gratidão pelos envolvidos no processo de tratamento, facilitando seus trabalhos, em favor de nós mesmos, compreendendo as doenças na sua função de reeducar-nos, de colaborar com nosso desenvolvimento moral, tão necessário quanto o desenvolvimento intelectual. 

Os portadores de deficiências ainda não estão suficientemente integrados na sociedade espírita. 

Essa afirmativa não significa que existam discriminações propositais ou que a sociedade espírita tenha para com eles uma atitude e um procedimento diferentes das demais coletividades. 

O que desejamos salientar é o desnível entre os princípios da Doutrina Espírita sobre a vida, o ser, o destino e as consequências práticas retardadas, dentro do objetivo expressado pelos espíritos a Allan Kardec no alvorecer da Codificação: "É ao mundo todo que se trata de agitar e transformar". 

Diante da árvore mais fértil plantada na Terra após o cristianismo, parece-nos que os frutos estão espalhados pelo chão como se tivéssemos o privilégio de só colher o que satisfaz à fome de cada um de nós. 

A Doutrina Espírita tem tal sabedoria e profundidade que não basta conhecê-la por leitura e por estudo. Seu tríplice aspecto, em caráter de síntese das verdades que a filosofia, a ciência e a religião procuram separadamente sem encontrar (exatamente por estarem separadas) necessita repensares a cada experiência de vida, a cada geração de pessoas, a cada descoberta do progresso. A ultrapassagem do mecanismo reducionista newtoniano e do racionalismo do método cartesiano, que ensinaram a classificar e a pensar com clareza, levou, pela lei do progresso contínuo, ao novo paradigma, de que tanto se fala hoje, próximo ao holismo integrativo, sem perder a centralização monista. 

É ainda no Espiritismo, tal como codificado por Allan Kardec, que encontramos o marco inicial desse paradigma e as bases para a civilização dos próximos séculos - "Tudo se encadeia, tudo se liga no universo" é a frase-chave da nova visão cultural e, sob ela, todas as circunstâncias, situações e variedades assumem importância imprescindível à harmonia do todo, cujo fulcro irradiador é "A Causa primária, a Inteligência Suprema". 

Não é fácil, hoje, avaliar corretamente a transcendência do aparecimento histórico cultural do Espiritismo na Terra. Menos fácil é a aplicabilidade na vivência pessoal e ainda menos fácil a projeção na sociedade da função transformadora que ilustraria o objetivo implícito nessa transocialização entre encarnados e desencarnados. 


A Cibernética Social, estruturada pelo sociólogo Waldemar de Gregori, analisa a sociedade dentro de uma ótica sistêmica, entrelaçada nas telas de um
"Show planetário". O indivíduo busca sua difícil auto-condução, em meio a um jogo triádico, tendo de um lado o Poder ou a situação dominante Oficial, do outro lado, o apelo natural de Renovação e, no centro, a posição Oscilante, entre um e outro, não propriamente procurando o equilíbrio mas permanecendo indecisa sobre o rumo a tomar. O contexto natural renovador acaba se sobrepondo e obtém o poder da oficialidade que, temporariamente, se estabelece e fica conservador até a repetição do processo. 

Essa trialética lembra as observações otimistas de Kardec sobre a transformação da sociedade através da influência da minoria tendente à verdade e ao bem sobre a maioria indecisa, para defender a sua certeza absoluta de que "o bem vencerá". A Cibernética Social destaca a "dinamização das potencialidades" como agente do processo de mudança, tanto no nível individual como no nível grupal, societário e universal.

Referimo-nos, de passagem, à visão da Cibernética Social para reforçar as afirmativas que unem a clareza cartesiana, utilizada por Allan Kardec nos livros da Codificação, às atualíssimas concepções da trialética holística. O que se tem de verdadeiro em nossa modernidade já estava presente na magnífica síntese publicada na Terra em 1857 sob o nome de O Livro dos Espíritos. 

O objetivo das encarnações é a evolução, que pode ser expressada como o processo do desenvolvimento das potencialidades dos filhos de Deus, herdeiros do reino do Pai, por direito de criação.

É nesse contexto que colocamos a primeira afirmativa do nosso tema e que podemos compreendê-lo. Não, certamente, aceitá-la passivamente sob pretexto de suas dificuldades mas procurar os pontos vulneráveis que permitirão concretizar uma das condições mais decisivas para a fraternidade humana: o relacionamento empático de um para com todos, sem exceção. Por isso Jesus disse: "Ama a teu próximo como a ti mesmo", abrindo a primeira porta da libertação dos viventes na Terra, a partir das experiências comuns aos aprendizes, ainda na fase de um periférico amor a si próprio.

A frase evangélica, sábia entre as mais sábias, faz surgir novas conotações humanas na busca de vocábulos ligados à harmonia, cuja falta se traduz em inquietação, insegurança, medos e infelicidades. Uma dessas conotações está na palavra Empatia, desenvolvida por Carl Roger, na qual o outro é, em essência, igual a mim; o que busco, ele busca; o que faço nem sempre ele consegue fazer mas muito do que ele faz eu não sei fazer; então, estamos interligados como equipe, permutando capacidades para chegar à vitória, jogando no mesmo time. 



As considerações acima colocam o significado da integração humana dentro da empatia como condição de dignidade de vida. Mas as pessoas portadoras de deficiências são vistas como elementos estranhos onde quer que estejam, exceto nos poucos lugares destinados aos tratamentos especializados.
O drama social que enfrentam está no fato de apresentarem suas diferenças tão ostensivamente que é difícil não se tornarem focos de atenção e, a seguir, de retração. Talvez essa retração (que leva à rejeição e à discriminação) disfarce uma espécie de medo e auto-defesa, provocados pela desconfiança de que se o fato ocorre com alguém da espécie humana pode acontecer conosco e a qualquer momento. Como de fato pode.

A integração humana começa na concepção, ou melhor, antes dela quando o "campo" vibratório da futura mãe se torna um ímã de atração para o futuro filho, dentro do envolvimento já existente e do plano reencarnatório, delineado, escolhido, aceito ou imposto para os encontros naquele trecho do caminho da vida.

A contribuição do Espiritismo é urgente nesse início de interação e empatia, ainda porque cada nascimento é uma resposta ao apelo da fraternidade e cada resposta pessoal interfere na humanidade toda. Essa contribuição acresce de importância nas encarnações difíceis, cujo número está percentualmente aumentando em nossa modernidade. 

Vários livros e pesquisas estão sendo divulgados identificando que o preparo para o convívio harmonioso e para a vida plena começa no diálogo com o bebê no ventre materno. 

Afirmam que é, efetivamente, um diálogo, pois o adulto fala e o feto responde como pode, sendo, é claro, mais receptivo que expressivo. Esses alguns livros são contudo poucos, além de se posicionarem dentro de modelos acadêmicos. Não ousaram avançar antes dos primeiros movimentos do bebê sentidos pela mãe e se omitiram de aspectos espirituais. 

Que pena! 

Os livros recebidos por Chico Xavier, notadamente a série André Luiz, forneceria a esses escritores e pesquisadores, um imenso oceano de informações. Que esplêndido programa poderão as sociedades, as instituições, os centros e as casas espíritas desenvolverem nesse sentido! Ouviremos: "Já está sendo feito esse trabalho. 

No Brasil a gestante, principalmente a carente, recebe assistência pré-natal em inumeráveis serviços espíritas, acrescidos de cursos sobre o nascimento, confecções de enxovais e fluidoterapia através de "passes", além de sugestões educacionais. 

A nosso ver isso é muito bom mas é ainda muito pouco e qualitativamente pequeno diante dos recursos oferecidos pela Doutrina Espírita na sua abrangência metas social. 

Foi bom ele ter nascido? 

As respostas variam. 

Os preocupados com a situação sócio-econômica lembram que ele é um dos 10 em cada 100 que vão agravar ainda mais os problemas da Terra, ligados à produção e à distribuição de recursos. 

Os adeptos das religiões apresentam respostas diversas: "A vontade do Todo poderoso quis assim", ou simplificadamente: "É o Karma"

A ciência de retaguarda, procurando ser humanista, poderá dizer: "Provavelmente, morrerá cedo"
Os amigos, compadecidos, dirão ao bebê: "Coitadinho, é um anjinho" e aos pais: "Estamos com vocês nesse drama tão triste" e aos vizinhos "Souberam da tragédia acontecida na família dos Silvas?".

Essas frases, em estilo informal, apresentam por abrangência as outras variedades. 

Em todas, ele, o bebê atípico, é o indesejável, o subconscientemente rejeitado. 

A nós, participantes da coletividade reencarnacionista, uma dessas respostas merece maior análise. É aquela que, lembrando por atavismo cultural a Pena de Talião: Olho por olho, dente por dente", condena sem julgamento e coloca sobre os frágeis ombros do bebezinho excepcional, arbitrariamente os qualificativos da criminalidade, em nome da Justiça Divina, que, nesse sentido, fica menor que o Amor. 

Por mais que a coletividade espírita esteja falando e escrevendo sobre o que dissemos acima, ainda é pouco. 

Não porque queiramos mas porque, como nos lembra André Luiz, "Contra os nossos anseios de claridade temos milênios de sombras". A vocação punitiva, tão enfatizada no Velho Testamento, resiste à plenitude do Amor dos Evangelhos cristãos.

O bebê deficiente está no seu berço de redenção. 

A família se entristeceu e se decepcionou por ele ter nascido como nasceu.

Lembra-nos um dos personagens do extraordinário livro "Memórias de um suicida" (ditado à médium Ivone Pereira), que renasceu sem os braços. 

Na intimidade, seu espírito estava felicíssimo. recebera a oportunidade tão solicitada. Amigos desencarnados se regozijavam, ainda porque ele voltara ao aconchego dos mesmos comparsas de escuras tramas do passado.

Finalmente surgira o momento da decisiva renovação para todos. Mas, aqueles mesmos familiares de hoje e de outrora, choravam a desgraça que acontecera por lhes ter nascido um bebê defeituoso.

Tal como comparamos a felicidade à sintonia com as leis divinas, sob a luz do Espiritismo, pudemos comparar a experiência difícil com a redenção concentrada ou a renda do tesouro acumulada. Sim, é para resgatar dívidas contraídas, mas o passado ficou lá atrás e o presente é o novo dia projetando-se para o futuro. 

O estigma moral colocado sobre os deficientes de hoje é uma confusão entre passado e presente, uma distração interpretativa diante da tese espírita sobre a evolução. 

Um dos riscos na compreensão da Lei de Causa e Efeito está em se enfatizar os aspectos dramáticos de preferência aos abençoados atalhos, que são estreitos e árduos, mas necessários à gloriosa escalada na montanha do auto-aperfeiçoamento. 

Coloca-se sobre as palavras "Expiação" e "Provas" uma sobrecarga pejorativa, também arbitrária, que as faz sobressair sobre a finalidade fundamental das reencarnações, em suas múltiplas variedades, dentro das duas metas expressadas na célebre resposta 132 de O Livro dos Espíritos... "a Perfeição" e, depois, "tornar a criatura apta a colaborar na obra do Criador". 

Sobressai o dueto passional crime-castigo como se não estivesse tão clara a certeza de que Deus é Amor. 

Expiação e Provas são desvios comuns do trânsito, possibilitados, menos por punição do que pelo amor contido no centro da Lei Divina. 

Pensamos que a sociedade espírita tem todas as condições para preencher esses espaços vazios criando e desenvolvendo serviços alternativos para complementar a integralidade da assistência. 

Ousamos afirmar que, sob variadas formas, a sociedade espírita está sendo convocada a se mobilizar também nessa área. 

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