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24 setembro, 2010

Sobre os Espíritos que se creem ainda vivos


Autor espiritual: Santo Agostinho

Já falamos, muito frequentemente, das diversas provas e expiações
mas cada dia delas descobris novas? Elas são infinitas, como os vícios da Humanidade e como vos estabelecer delas a nomenclatura? Todavia, vindes de nos reclamar por um fato, e vou tentar vos instruir. Nem tudo é prova na existência; a vida do Espírito continua, como já vos foi dito, desde seu nascimento até o infinito; para uns a morte não é senão um simples acidente que não influi em nada sobre o destino daquele que morre. Uma telha caída, um ataque de apoplexia, uma morte violenta, muito frequentemente, não fazem senão separar o
Espírito de seu envoltório material; mas o envoltório perispiritual conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo que acaba de sucumbir.
Num dia de batalha, se eu pudesse vos abrir os olhos que possuís, mas dos quais não podeis fazer uso, veríeis muitas lutas continuarem, muitos soldados subir ainda ao assalto, defender e atacar os redutos; vós os ouviríeis mesmo produzir seus hurras! e seus gritos de guerra, no meio do silêncio e sob o véu lúgubre que segue um dia de carnagem; o combate acabou, eles retornam aos seus lares para abraçar seus velhos pais, suas velhas mães que os esperam.
Algumas vezes, esse estado dura muito tempo para alguns; é uma continuação da vida terrestre, um estado misto entre a vida corpórea e a vida espiritual. Por que, se foram simples e sábios, sentiriam o frio do túmulo? Por que passariam bruscamente da vida para a morte, da claridade do dia à noite? Deus não é injusto, e deixa aos pobres de Espírito esse gozo, esperando que vejam seu estado pelo desenvolvimento de suas próprias faculdades, e que possam passar com calma da vida material à vida real do Espírito.
Consolai-vos, pois, que tendes pais, mães, irmãos ou filhos que se extinguiram sem luta; talvez lhes seja permitido crer ainda que seus lábios se aproximaram de vossas frontes. Secai vossas lágrimas: os prantos são dolorosos para vós, e eles se admiram de vos ver derramá-los; envolvem vossos colos com seus braços, e vos pedem para sorrir. Sorri, pois, a esses invisíveis, e orai para que mudem o papel de companheiros no de guias; para que desdobrem suas asas espirituais que lhes permitirão planar no infinito e de vos trazer dali as doces emanações.
Não vos digo, notai-o bem, que todos os mortos logo caem nesse estado; não, mas não há um único cuja matéria não tenha que lutar com o Espírito que se reencontra. O duelo teve lugar, a carne foi dilacerada, o Espírito obscureceu-se no instante da separação, e na erraticidade o Espírito reconheceu a verdadeira vida.
Agora vou dizer-vos algumas palavras daqueles para os quais esse estado é uma prova. Oh! quanto ela é penosa! eles se creem vivos e bem vivos, possuindo um corpo capaz de sentir e de saborear os gozos da Terra, e quando suas mãos vão tocar, suas mãos se apagam; quando querem aproximar seus lábios de uma taça ou de uma fruta, seus lábios se aniquilam; eles veem, querem tocar, e não podem nem sentir nem tocar. Quanto o paganismo oferece uma bela imagem desse suplício, apresentando Tântalo tendo fome e sede e não podendo jamais tocar os lábios na fonte d'água que murmura ao seu ouvido, ou o fruto que parece amadurecer para ele. Há maldições e anátemas nos gritos desses infelizes! Que fizeram para suportar esses sofrimentos? Perguntai-o a
Deus: é a lei; ela está escrita por ele. Aquele que fere com espada perecerá pela espada; aquele que profanou seu próximo será profanado por sua vez. A grande lei de talião está inscrita no livro de Moisés, ela o está ainda no grande livro da expiação. Orai, pois, sem cessar por aqueles na hora de seu fim; seus lábios se fecharão, eles dormirão no espaço, como se tivessem dormido sobre a Terra, e reencontrarão, no seu despertar, não mais um juiz severo, mas um pai compassivo lhes destinando novas obras e novos destinos.
Revista Espírita, novembro de 1864

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