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27 agosto, 2010

Variações de Humor

Foto - Marta Azevedo



Eu estava muito bem, saudável, animado...De repente, sem motivo paupável,
caí na"fossa" - uma angústia invencível, uma profunda sensação de infelicidade, como se a vida não tivesse mais graça...

Queixas assim são frequentes nas pessoas que procuram o Centro Espírita. Nesse estado toma corpo, não raro, a idéia de que a morte é a solução.
Conversávamos, certa feita, num hospital, com um rapaz que tentara o suicídio ingerindo substância tóxica. Socorrido a tempo, amargava sofrida recuperação. 
Tentamos definir o motivo de tão grave iniciativa:

-Alguma desilusão sentimental?
-Absolutamente. Não tenho namorada.

-Problemas familiares?
-Pelo contrário.Dou-me muito bem com meus pais e irmãos.

-Perdeu o emprego?
-Trabalho há anos na mesma firma.O patrão parece contente comigo.

-Então, o que foi?
-É que eu estava entediado de viver.Entrei em estado de tristeza e achei que seria melhor morrer.

-Já se sentiu assim , anteriormente?
-Sim , de vez em quando...

Em psicologia o paciente poderia ser definido como ciclotímico, alguém com temperamento sujeito a variações intensas de humor - alegria e tristeza, euforia e angústia, serenidade e tensão.Tem períodos de grande energia, confiança, exaltação, alternados com aflições.Muita disposição e iniciativas hoje; amanhã temores e inibições.
Os períodos negativos podem prolongar-se, instalando a depressão, a exigir tratamento especializado na área da psiquiatria.Como ela se alterna com estados de euforia, em que o paciente parece totalmente recuperado, sem que nada tenha ocorrido para justificar a mudança de humor, emprega-se a expressão
"depressão endógena", algo que tem sua origem nas tendências constitucionais herdadas, algo que faz parte da personalidade do indivíduo.

Há uma retificação a fazer. A tendência à depressão é uma herança, realmente, não de nossos pais, mas de nós mesmos, porquanto as caracteristicas fundamentais de nossa personalidade representam, essencialmente,  a soma de nossas experiências em vidas pretéritas.
O que fizemos no passado determina o que somos no presente. Poderíamos colocar em dúvida a justiça de Deus se assim não fosse, porquanto é inadmissível, além de não encontrar respaldo científico, a existência de uma herança psicológica em butida nos elementos genéticos.

O que pesa sobre nossos ombros, favorecendo os estados depressivos, é a carga dos desvios cometidos, das tendências inferiores desenvolvidas, dos vícios cultivados, do mal praticado. Há pessoas que, pressionadas por esse peso mergulham tão fundo na angústia que parecem cultivar a volúpia do sofrimento, com o que comprometem a própria estabilidade física, favorecendo a evolução de desajustes intermináveis.
De certa forma somos todos ciclotímicos, temos variações de humor, sem que isso se constitua num estado mórbido:hoje em paz com a vida; amanhã brigados com a humanidade.Nas nuvens por algum tempo; depois na "fossa".

E nem sempre, como ocorre com o paciente ciclotímico, há justificativa para essa alternância. Pelo contrário: frequentemente nosso humor opõe-se às circunstâncias, como o indivíduo plenamente realizado no terreno afetivo, social e profissional que, não obstante, experimenta períodos de angústia; no outro extremo, o doente preso ao leito, padecendo dores e incômodos, que tem momento de indefinível alegria e bem - estar.
Essa ciclotímia guarda relação com os processos de influência espiritual. Estados depressivos podem originar-se da atuação de Espíritos perturbados e perturbadores, que consciente ou inconscientemente nos assediam. Popularmente emprega-se o termo "encosto" para esse envolvimento.
Por outro lado, os estados de euforia, sem motivo aparente , resultam do contato com benfeitores espirituais que imprimem em nosso psiquismo algo de suas vibrações alentadoras.

-Hoje estou em estado de graça.Acordei bem disposto, feliz , sem nenhum "grilo" na cabeça - diz alguém, sem saber que tal disposição é fruto de ajuda recebida no plano espiritual durante as horas de sono físico, favorecendo-lhe um "alto astral".
Importante lembrar, também, o ambiente como fator de indução que pode precipitar estados de depressão, ou euforia.
Num velório, onde os familiares do morto deixam-se dominar pelo desespero, em angústia extrema, marcada por gritos e choro convulsivo, muitas pessoas se sentirão deprimidas, porquanto os sentimentos negativos são tão contagiosos como uma gripe. Se não possuimos defesas espirituais tenderemos a assimilá-los com muita facilidade.

Inversamente, comparecendo a uma reunião de cunho religioso, onde se cultua a prece, no empenho de comunhã com a Espiritualidade, ouvindo exortações relacionadas com a virtude e o bem, experimentaremos maravilhosa sensação de paz, como se houvéssemos ingerido milagroso elixir.

Há outro aspecto muito interessante, abordado pelo Espírito François de Genève, no capítulo V , de "O Evangelho Segundo o Espiritismo":
"Sabeis porque, às vezes , uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que o vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia e vos julgais infelizes.
"Crede-me, resisti com energia a essas impressões, que vos enfraguecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não a busqueis neste mundo e, agora , quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem , para vos instruirem acerca da felicidade que le vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantém cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes que desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou . Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra."

Podemos concluir, em resumo, que a ciclotimia de nossa personalidade ocorre em função de pressões ambientes, de influências espirituais, do peso do passado e das saudades do além.
E como superar as variações de humor , mantendo a serenidade e a paz em todas as situações?
É evidente que não a faremos da noite para o dia, como quem opera um prodígio, mesmo porque isso envolve uma profunda mudança em nossa maneira de pensar e agir, o que pede o concurso do tempo.
Considerando, entretanto, que influências boas ou más passam necessariamente pelos condutos de nosso pensamento, podemos começar com o esforço por disciplinarmos nossa mente, não nos permitindo idéias negativas.

O apóstolo Paulo, orientando a comunidade cristã , em relação aos testemunhos necessários, ressalta bem isso, ao proclamar, na Epístola aos Felipenses (4:8):

"Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento".
Página da obra Espírita :"Uma Razão Para Viver" -  Richard Simonetti
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."

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