“Da mesma boca provém bênção e maldição.” (Tiago, 3:10.)
Marta Antunes Moura
Por definição, a mentira é um engano, falsidade ou fraude. Algo que é contrário à verdade e à caridade. Pode ocorrer por vontade própria, por omissão ou por equívocos de interpretação de fatos e comportamentos. Em qualquer situação os resultados são sempre negativos. Primeiro porque contraria padrões morais, éticos e religiosos (a mentira é considerada “pecado” pelas religiões cristãs tradicionais); segundo porque pode desencadear reações imprevisíveis, com exacerbação de animosidade e conflitos entre as pessoas, estabelecimento de focos de maledicência, entre outros.
Alguns filósofos, como Platão (428/427-348/347 a.C.), admitiam aceitar algumas mentiras, desde que não produzissem maiores prejuízos, como a chamada “mentira piedosa”. Immanuel Kant (1724- 1804), Santo Agostinho (354-430) e Aristóteles (384-322 a.C.) não aceitavam qualquer tipo de mentira, por acreditarem que o mentiroso é um Espírito moralmente fraco. Este último filósofo, inclusive, a distinguia e classificava em dois tipos: a jactância, que consiste em exagerar a verdade, e a ironia que, ao contrário, diminui a verdade.
Não há dúvidas de que a mentira, parcial ou total, velada ou declarada, revela desarmonia espiritual de quem a pratica. A questão que se coloca, porém, é outra: o que fazer para evitar queda nas malhas da maledicência, fazendo opção pela verdade? Pois nem sempre é fácil discernir entre o falso e o verdadeiro. Pondera o Espírito São Luís, a respeito, que todo cuidado é pouco ao comentar o mal alheio, ainda que este se revele verdadeiro:
[...] Se as imperfeições de uma pessoa só prejudicam a ela mesma, não haverá nenhuma utilidade em divulgá-la.No entanto, se podem acarretar prejuízos a terceiros, deve-se preferir o interesse do maior número ao interesse de um só. [...] Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes.
No rastro histórico da mentira, vamos localizá-la como abominável técnica de persuasão, largamente utilizada por Adolf Hitler e os construtores do nazismo, a qual foi denominada Teoria da Grande Mentira. Trata-se de uma ferramenta da propaganda ideológica frequentemente usada, no passado e no presente, para se referir à crença de que uma mentira, repetida com frequência, de forma convicente que ignora todas e quaisquer declarações que poderiam desmascará-la, irá com o tempo ser aceita pelas pessoas, adquirindo o status de verdade, desde que repetida enfaticamente e soprada nos ouvidos certos.

De qualquer forma, a mentira, pequena ou grande, revela imperfeição moral que pode e deve ser combatida.
O Espírito que já possui algum esclarecimento sabe, portanto, que o ato de mentir implica aquisição de satisfações pessoais por meios escusos e que não considera o constrangimento e o sofrimento do próximo. É um comportamento errôneo, um deslize moral, como ensina Joanna de Ângelis: [...].Aqui, é a mentira branca, disfarçando o mau hábito de escamotear a verdade [...]. Mentir é sempre um hábito doentio que encarcera o indivíduo nas suas malhas traiçoeiras. Adiante, é a censura com ironia, ocultando a perversidade que se expande a soldo da maledicência e da leviandade. [...]
A mentira é relativamente comum na infância, daí ser importante que pais e educadores aprendam a distinguir a realidade da fantasia. A situação se revela especialmente grave quando a criança e o adolescente mentem para se isentarem da culpa, para chamarem a atenção dos genitores, familiares, colegas e professores. Persistindo-se nessas bases, o processo pode evoluir para algo mais sério, doentio, sobretudo se os adultos, que servem de referência para a criança e o jovem, também têm o hábito de mentir, ou de usar de subterfúgios para justificar os seus atos incorretos.
Para o professor David L. Smith, anteriormente citado, a questão é muito mais ampla quando se trata da educação de filhos.[...] a maioria de nós diz que ensina os filhos a não mentir. Embora seja verdade que as crianças ouvem que não devem mentir, aprendem mais frequentemente a mentir de uma maneira socialmente aceitável. [...] As crianças aprendem a praticar as formas de engano que são publicamente proibidas, mas, secretamente, sancionadas. A mentira socialmente apropriada não é meramente tolerada; é compulsória. A criança que não consegue dominar essa habilidade paga o alto preço da desaprovação, da punição e do ostracismo social.
A mentira sistemática produz, com o tempo, deformações no caráter individual, sendo impossível, em determinados casos, discernir se a pessoa fala ou não a verdade.
O certo, mesmo, é fugirmos da mentira, agindo com mais sinceridade no trato com as pessoas. Para isto é necessário exercitar atos de boa conduta, apoiando-se nesta orientação de Allan Kardec:[...] Desde que a divisa do Espiritismo é amor e caridade, reconhecereis a verdade pela prática desta máxima, e tereis como certo que aquele que atira a pedra em outro não pode estar com a verdade absoluta. [...].
"Junte-se a nós neste ideal: divulgue o Espiritismo."
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